SEPARAÇÃO

O verbo separar só existe no sentido negativo, mesmo quando há uma luta e esta termina pela apartação. No rompimento; alguma coisa mudou. Seja no relacionamento entre duas pessoas, de compatriotas ou de países Não há separação sem dano e dor. Muitas vezes este afastamento é temporário, para melhoria de vida, uma viagem de prêmio. Até isso implica em ausência da pessoa querida; é doloroso.

Em minha vida de cigana vivi estes momentos centenas de vezes. Posso dizer que estou habituada a partir, porque tenho voltado sempre; seja ao meu país, cidade e bairro, para a família e para os amigos. Se deixei alguém no estrangeiro, se a saudade aumenta e o dinheiro permite, a gente vence e rompe a barreira geográfica, indo até eles ou os trazendo até nós.

Hoje, porém, quero falar da separação definitiva imposta pela morte, esta sombra permanente que nos acompanha ao longo da nossa vida, desde o nascimento É explicada pela medicina, mas totalmente incompreendida e aceita, pela nossa razão e sensibilidade. É tão forte o sentimento causado por ela que, mesmo os de temperamentos controlados por uma vontade férrea e por um ceticismo, são devastados pelo pensamento do “para sempre, longe dos nossos olhos”.

Os espiritualizados pensam “um dia nos encontraremos”. Um dia? Haverá dia no depois, que nos permitirá, à sua luz, ver o que hoje não vemos mais? Mesmo aqueles que contornam o sofrimento da separação pensando que o que partiu não sente mais o tormento da doença, são consolados?. Aquilo não era mais vida, dizem. Meras palavras que não diminuem a dor que se esconde lá no fundo do coração. Tão fundo que não há sonda que possa atingi-la com anestésico poderoso ou morfina emocional. Ela permanece lá, escondida, mas se fazendo presente a cada instante que o nosso pensamento, “espírito de porco”, nos lembra desse desenlace.

Os psicólogos e psicanalistas dizem que temos de viver o luto, pela morte de alguém. Viver o luto? Que masoquismo é esse? Não quero me vestir de preto, cobrir o rosto para esconder as lágrimas. Isso é teatro, encenação. Não sei agir desta forma, contra a separação definitiva de alguém querido. Como uma homenagem àquele que se foi, quero ser mais alegre, para lembrar da época em que nossos destinos se cruzaram. Quero recordar até das nossas brigas que sempre eram seguidas de separações temporárias, e posteriores re-encontros. Foram muitos. Foram a minha vida.

A morte causa uma invisibilidade física, mas não mata as nossas lembranças boas; não pode ser maior do que o amor, a amizade e a solidariedade, que são os sentimentos mais fortes do ser humano. E eu amo, quero bem e sou solidária aos que sofrem a separação definitiva.

Petrópolis, 11 de abril de 2011.

Gilda Porto
Enviado por Gilda Porto em 11/04/2011
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