PORQUE MATEI A GURIA
PORQUE MATEI A GURIA
(Crônica de Carlos Freitas)
-Por que matei doutor? Permita-me assentar. Vou confessar-lhe porque matei a única guria que amei em toda minha vida doutor. – Fique à vontade senhor Batista. Sente-se e faça o seu depoimento.
Batista, sujeito forte, gaúcho de Farroupilha, era um cinqüentão realizado. Casado há mais de trinta anos. Um casal de filhos. Vivia do trabalho, e do amor pela família. Luana a esposa – era sua musa inspiradora, até que...
... - Semana passada doutor, após um longo e duro dia de trabalho na minha pequena lavoura de soja, voltava para casa. Num cruzamento, farol aberto para mim, um bêbado irresponsável atingiu-me em cheio na porta. Perdi os sentidos, e quando voltei à consciência, percebi que estava num leito de hospital. Não sentia dores. Estava sedado da cintura para baixo. Algum tempo depois, entrou o médico que fizera o exame preliminar. Vinha comunicar-me o que de pior acontecera. Sem rodeios disse que meu estado clínico era ótimo, porém, lamentando muito, disse que no impacto, eu perdera meu membro sexual. Entrei em estado de choque. Tudo me parecia um pesadelo, porém, ele me acalmou, dizendo que a medicina moderna estava evoluidíssima, e, que poderia reparar aquela perda. Eu poderia ter o pênis de volta, através de um transplante, porém, como o plano de saúde não cobriria, teria que arcar com os custos. - Os preços para operação ficarão à sua escolha – disse o médico. O senhor terá três opções: - O tamanho pequeno, custará R$5.000,00, o médio R$10.000,00, e o grande R$15.000,00 . - Incontinenti aceitei fazer o transplante senhor delegado. Claro, porque assim, poderia voltar a ter uma vida normal. Não me via no futuro, vivendo como um eunuco. Todavia, fiquei na dúvida quanto ao tamanho – P M ou G. Ao comentar com o cirurgião minha indecisão, mesmo porque, estava prestes a iniciar uma grande reforma na cozinha de minha casa, ele se dispôs a ligar para minha esposa. Contaria sobre o acidente, e que ela fosse com urgência para o hospital. Conversaríamos, e decidiríamos pelo melhor. E assim foi. No hospital Luana foi ao meu encontro. O médico, respeitando nossa privacidade nos deixou a sós para conversar e decidir sobre o que fazer. Luana chorava em convulsão, porque via sinais de sangue na altura da minha virilha. Apesar do meu estado, tive forças para acalmá-la.
Expliquei a ela, porque o médico nos deixara a sós. Contei o trágico acidente, a perda que tivera, e que naquele momento, precisava muito do seu apoio e carinho.
Expus claramente o que seria preciso fazer, e, quanto custaria. Quanto a mim, já que gastaria de qualquer forma, decidira pelo tamanho G. Seria um novo homem, quilometragem zerada, e uma esposa impaciente à espera do seu velho novo macho gaúcho!
- Muito bem senhor Batista, mas por que o senhor matou a sua guria?
- Foi nesse ponto doutor delegado, que tudo desandou, e aconteceu a desgraça.
Ao ouvir um barulho estranho no quarto, o médico entrou qual flecha, avistando minha guria inerte, morta ao lado da cama.
- Pelo amor de Deus senhor Batista, o que foi que acabou de acontecer aqui? – disse ele pálido.
Aconteceu doutor que ao perguntar a opinião da minha guria sobre a escolha do transplante, como uma vadia, desprovida de sentimentos de dor ou compaixão, e, um rosto, onde vi somente frieza e crueldade, ela virou-se prá mim dizendo: - Bah Tchê, honestamente Batista, queres a minha opinião? – Prefiro reformar a cozinha!