Jogo de damas
Naquele espaço quadriculado colho uma página de vida. Contas de luz, de telefone, de internet. Todas pagas. Recibos de doação, da livraria, da faxineira. Panfletos de tele entrega de remédio, de comida chinesa, de gás... Há que se entregar também felicidade, hora dessas. No encosto da cadeira, um guarda-chuva. Numa outra, calça e blusa precisam do ferro de passar. Em cima da mesa, o cronista me sorri! Dentro do livro encontro a esperança no café-da-manhã e a perspicácia de olhares cotidianos. Ao menino que conta memórias, límpidas como agora, quero dar colo. Já ao escritor vivido peço que me tome pela mão e me aponte o caminho. Entre um e outro, metáforas, tendo por condição, principalmente, silêncios. Talvez nem tão terrível como a solidão da morte, mas ali, em cima da mesa, encontro espelhada a solidão de quem confia somente ao papel sua voz mais íntima. Aprisionada, a palavra, dama de jogos diuturnos, alcança plena liberdade para se perder longe da simplicidade dos dedos que movem as pedras.
Naquele espaço quadriculado colho uma página de vida. Contas de luz, de telefone, de internet. Todas pagas. Recibos de doação, da livraria, da faxineira. Panfletos de tele entrega de remédio, de comida chinesa, de gás... Há que se entregar também felicidade, hora dessas. No encosto da cadeira, um guarda-chuva. Numa outra, calça e blusa precisam do ferro de passar. Em cima da mesa, o cronista me sorri! Dentro do livro encontro a esperança no café-da-manhã e a perspicácia de olhares cotidianos. Ao menino que conta memórias, límpidas como agora, quero dar colo. Já ao escritor vivido peço que me tome pela mão e me aponte o caminho. Entre um e outro, metáforas, tendo por condição, principalmente, silêncios. Talvez nem tão terrível como a solidão da morte, mas ali, em cima da mesa, encontro espelhada a solidão de quem confia somente ao papel sua voz mais íntima. Aprisionada, a palavra, dama de jogos diuturnos, alcança plena liberdade para se perder longe da simplicidade dos dedos que movem as pedras.