CRÔNICA – O massacre de Realengo
Crônica – O massacre de Realengo – 09.04.2011
Recebi várias sugestões de leitores meus no sentido de escrever sobre o massacre ocorrido no Realengo, Rio de Janeiro, nessa quinta feira, pela manhã, quando um homem identificado como Wellington Menezes de Oliveira, de 24 anos, entrou em uma escola municipal e atirou contra crianças, deixando pelo menos 12 mortos e outros 18 feridos. O jovem se matou após cometer o crime e ser baleado por um sargento da polícia fluminense.
Confesso que ainda estou me sentindo enjoado com tamanha violência, e justamente na cidade maravilhosa, palco de outras chacinas não com estudantes, mas com prisioneiros e outras infelizes criaturas. Mas ninguém pense que esse é um caso isolado, porquanto há registro de que em 2003 o mesmo já ocorrera em São Paulo, no lugar denominado Taiúva, situado a 360 km da capital. Naquela época, um ex-aluno de 18 anos entrou numa escola e atirou contra estudantes durante o intervalo, atingindo sete pessoas, cometendo suicídio logo em seguida.
A chacina atual chocou o mundo todo. Reações as mais diversas de líderes e instituições internacionais condenaram o massacre, que antes só ocorria nos Estados Unidos e Japão, praticamente. Todavia, como o Brasil está crescendo (?) como nunca se torna necessário passar por péssimos momentos como esse!!!
A nossa polícia, por questão de sorte, localizou os supostos vendedores de uma das armas ao senhor Wellington, que não deixam de ser criminosos também nesse caso. São os senhores Isaías de Souza e Charleston Souza de Lucena. Um deles já tinha passagens pela polícia por porte ilegal de armas e uso de documento falso. Existiria um terceiro nome, mas é tido como morto.
Quanto aos motivos que levaram esse rapaz a cometer tamanho delito só ele sabia e os carregou consigo para o túmulo. Mas podemos arriscar a dizer que a violência que impera no Rio de Janeiro; os filmes que estão produzindo aos montões sobre o tema, inclusive no Brasil, assim como Tropa de Elite, por si sós já nos fornecem elementos para imaginar as causas desses hediondos crimes. Todavia, a Internet dispõe de ensinamentos a propósito de tudo o quanto é ruim, inclusive como atirar e até carregar as armas de maneira muito rápida. Sabe, até desenho animado ensina os caminhos da violência.
Quero entender que a culpa do ocorrido cabe ao Estado, pois está inserta na nossa Constituição a obrigatoriedade de garantir a segurança dos nossos cidadãos, adultos e crianças. O fato de a escola possuir vigilantes terceirizados não inibe a que se tome a iniciativa de pleitear na justiça a indenização pertinente pelas perdas, embora se saiba que não há dinheiro no mundo que pague uma vida por pior que ela seja ou fosse. Fica claro também que a escola tem culpa nessa tragédia, pois tem obrigação de zelar pelo bem estar dos alunos em suas dependências. Nas nossas leis há dispositivo que diz “aquele que por ação ou omissão, negligência, imprudência, imperícia, etc. causar dano a alguém é obrigado a repará-lo...”. Os juristas têm pano pras mangas, tanto no que se relaciona aos assassinados como aos que foram feridos/hospitalizados. Pena é que a nossa justiça anda a passos de tartaruga.
Bom ressalvar que o alunato, em sua totalidade, sofreu prejuízos, pois além dos que faleceram e dos que foram feridos há os que estão com o emocional, o psicológico em frangalhos, todos a merecer providências por parte da direção da escola e das autoridades competentes.
Mas até nas horas de desgraça os políticos aparecem nos hospitais e cemitérios, assim como prestando solidariedade às famílias atingidas. O prefeito do Rio de Janeiro andou fazendo visitas aos cemitérios, passando cerca de 10/15 minutos, enquanto as câmeras da mídia registravam todos os seus movimentos, passando o senhor doutor Eduardo Paes a ser a vedete do nefasto espetáculo. É necessário ser visto por toda a população, eis que no próximo ano haverá eleições para as prefeituras em todo o país.... É como se já estivesse em plena campanha eleitoral.
Fico por aqui, pois estou escrevendo sem jeito e com um nó na garganta. Além do mais os noticiários da imprensa já falaram tudo. Apenas um lembrete final: O Rio de Janeiro tem seis vezes o número de assassinatos de Buenos Ayres.
Ansilgus
Em revisão.
Interação/comentários:
11/04/2011 12:03 - Ana Stoppa, grato:
Poeta, bom dia. Tua crônica bem construída além de abranger a matéria com a dor que ela transmite toca um ponto que eu gostaria de registrar - os abomináveis holofotes políticos, que nas maiores tragédias fazem questão de construir o circo da dor alheia. Perceba sempre bem vestidos com um séquito de seguidores e puxa-sacos, revelando soluções paliativas para a imprensa, ou seja, falam na maioria das vezes sem nada dizer. Será preciso outra imolação coletiva para que se cumpra o que a Lei Maior determina? Enquanto cabides políticos empregam milhares em cargos de comissão, serviços essenciais como a segurança deixam e muito a desejar. Que este ceifar precoce de vidas não seja em vão. Ana Stoppa
Para o texto: CRÔNICA – O massacre de Realengo (T2900742)
12/04/2011 11:45 - Celêdian Assis, meu abraço:
Meu caro amigo, sua crônica mostra com clareza que mesmo através da dor que suscita tragédias deste porte, é possível identificar oportunismos e oportunistas de plantão. Há sim muitos problemas por trás de uma atitude facínora, de várias ordens, causas psicossociais, motivos de fanatismos, religiosos, políticos ou até de foro íntimo, mas está intrínseco em cada um deles o desvelo, o descaso do estado para com a pessoa e as instituições. Faltam condições de saúde para tratar um maníaco, falta educação para fazê-lo discernir entre o ético e o amoral, falta segurança para garantir-lhes direitos, faltam instrumentos de motivação para a manutenção da instituição família, enfim falta-nos tudo que é fundamental para uma vida sadia em sociedade. No caso específico das escolas, o que fazer para assegurar a paz e a segurança, sem comprometer as metas da educação? Como li hoje em um artigo de uma especialista da USP, muito pertinente: não se pode sacrificar a educação no sentido de coibir a participação de pais e da comunidade na escola. É preciso abrir-lhes as portas e não tratar de fechar a escola, como se ela fosse banco ou joalheria, alvos de assaltos. Ela diz ainda que "Em termos de segurança, o que deve prevalecer é o bom senso. Não deixar o portão escancarado, mas identificar quem entra." Claro que é uma medida um tanto simples e que é preciso adequar muitas outras, mas concordo que uma identificação séria de quem entra na escola, já é um bom começo. Como sempre seus excelentes textos nos levam a reflexões, o que nos torna de alguma forma, cidadãos responsáveis pelos caminhos da nossa sociedade. Um grande abraço, meu amigo e uma bela tarde.
Para o texto: CRÔNICA – O massacre de Realengo (T2900742)
Comentário do poeta Bosco Esmeraldo...
Texto revisado:
Caríssimo Antônio Gusmão!É bastante revoltante como sucatearam a honra do brasileiro! Como fragilitaram a nossa segurança e temos que amargurar a ideia de que somos reféns em nossos próprios lares! Como é triste olhar tudo isso e saber que é a nossa Gentil Pátria Amada Brasil que se torna enodoada com tudo isso, quer pelo ocorrido, quer pela omissão do Poder Público!
Poeta, Crônista com "P" e "C" MAIÚSCULOS.
É uma lástima termos que discorrer sobre tais assuntos. Tão bom se não passasse apenas de um roteiro de filme ou documentário! Mas, infelizmente, isto é real e não podemos assistir tudo isso apáticos.
Pergunto-me! Por que não investir no fortalecimento da família? Em vez disso, legislam assuntos que a fragiltam, como a institucionalidade do aborto, fomento do divórcio, ingerência do Poder Pátrio etc.
Se, se investissem mais no fortalecimento do LAR, certamente não eliminaríamos esses esdrúxulos acontecimentos, mas os tenderíamos ao zero.
Parabéns pela bela crônica!
Deus abençoe a nós todos e nos proteja disso tudo!
Muito grato.