Tempestades de Verão

O garoto o olhava abismado, lagrimas brotavam em seus olhos, não podia mais, não agüentava mais sustentar o olhar, aqueles olhos... Tão penetrantes... Mas mesmo assim ele conseguiu desviar deles.

- Por que mentes para si mesmo? Por quê? – ele pegou em seu rosto de forma carinhosa.

- Todos têm seus motivos. – disse se afastando.

- Mas... I need you smile! – ele disse segurando firme aos pulsos do ser que estava a sua frente que matinha a face virada.

- Pare. Please... – lagrimas ainda saiam de seus olhos, como a chuva que insistia em cair. Mesmo com o corpo todo molhado, era possível ver aquelas lagrimas.

- Não! O que é tão difícil, por que não pode apenas mostrar quem você é realmente? Eu preciso disso, preciso de você.

- I need you too. – olhava nos olhos do garoto a sua frente.

- Então por quê? Por que é tão difícil? – lagrimas também brotavam de seus olhos e escorriam por sua face molhada.

- Não percebe? Por que não consegue perceber? Os motivos estão visíveis, e mesmo assim você não quer vê-los. Recusa-se a aceita-los.

- Talvez eu me recuse a vê-los porque você se recusa a enfrentá-los. It's Pain...

- Pain? Também dói em mim, mas...

Ele chorava como um bebê, um lindo bebê de cabelos negros, olhos castanhos escuros quase negros e penetrantes, chorava com toda a beleza que tinha, chorava com se houvessem lhe tirado dos braços de sua mãe. Chora como quem havia conhecido o amor, como quem havia descoberto a primeira definição dada ao “Amor Platônico”.

Os dois ficaram em silencio por um tempo, olhando um para a face do outro. As lagrimas se mesclavam a chuva, o sentimento estava presente, mas locauteado, preso em baixo de diversas camadas de certo e errado, preso pelo senso que se dizia comum, que proibia o amor de Platão, que se mostrava intolerante as escolhas.

“Liberdade de escolha.” “Liberdade de expressão.” Foi o que sempre foi dito, mas nunca seguido, nunca respeitado... Apenas palavras que soam de forma quase tão bela quanto a de um hino, se não for um hino, hino da falsa liberdade, da falsa compreensão.

Onde estava aquele Amor Aristotélico ao próximo, onde se encontrava o “querer mais que bem querer”? Quando meu direito de escolha, seja ele qual for, será respeitado? Eles não queriam aprovação, eles não tinham medo da rejeição. Estavam presos a uma vida de sofrimento, mas por que não poder sofrer juntos, de tal forma que pudessem se sentir felizes quando ao lado um do outro, tornando assim a dor mais tolerável, mais suportável?

- Me desculpe, eu não posso.

- Você pode sim! – disse o menor abraçando o moreno, apertando lhe bem, para que mesmo com a chuva, ele não pudesse escapulir. – Não ligue para “eles”, quem são eles? Não podem nos julgar, não podem nos impedir de sermos felizes.

- Feliz... Como posso estar feliz desonrando minha família? A família que perdi. My family! Você não sabe como é...

- Posso não saber, posso não ter conhecido minha família... Mas acredito, ou procuro acreditar, que eles me aceitariam como sou!

- Não é assim que funciona, a vida não é assim. – disse virando-se de costas ao garoto.

- Não! Por favor... – ele o agarrara pelas costas. – Não me deixe!

- Nada posso fazer a não ser lamentar.

- Não! – disse indo de frente ao rapaz, ficando mais uma vez frente a frente com ele. – Beije-me, beije-me apenas mais uma vez, e saberá que não podes me deixar. Beije-me!

- Sinto muito. – disse tirando o menor de sua frente e prosseguindo em passos curtos e desesperadores.

Eles apenas queriam a felicidade, apenas queriam poder amar como os outros. Queriam ser felizes, um com outro. Mas nem tudo é um conto de fadas, dois corações estavam partidos naquele final de tarde chuvoso, dois corações haviam sido retalhados pela incompreensão do mundo e de seus dilemas, de seus “certos” e “errados”. Dois corações estavam sendo perdidos para a escuridão, por culpa dos homens e de suas incapacidades, suas incapacidades de ver alem dos seus olhos, de sentirem alem do que lhes ensinaram a sentir, de provarem além do que lhe foi imposto a provar nos primórdios do tempo.

Duas pessoas estavam machucadas, o destino dessas duas pessoas, desses dois seres, era de solidão, de uma vida de mentiras e incapacidades, estariam presos a realidades que não lhes agradariam, presos a vidas e costumes que não serão os que lhe farão felizes. Seus amigo, seus visinhos, suas futuras e mal amadas esposas teriam de conviver vendo a tristeza nos olhos deles, todas as noites ao deitarem-se. E eles se veriam tristes e obsoletos a costumes e sensos, os mesmos costumes e sensos que um dia lhes tornaram infelizes.

Ele parou, ficou assim por alguns segundos, tentava com todas as forças não olhar para trás, mas não conseguiu. O sentimento... Tudo aquilo...

Ele olhou, viu seu amado jogado ao chão de tristeza e sofrimento, deitado em seu leito molhado de próprias lagrimas e as das estrelas que assistiam a forma decadente com que os "homens" faziam com que dois corações se tornassem apenas órgãos incapazes de ter a felicidade. Ele não era tão forte quanto a si, talvez não suportasse o mesmo que o moreno.

Ele voltou, começou com passos curtos e rápidos, até começar a correr ao encontro do amado, do ser amado. Ajoelhou-se diante dele, e tocou seu rosto com ternura.

- Mas...

Ele tocou seus lábios pedindo silencio, beijou os mesmos com paixão, com todo o sentimento que sentia. Ambos sabiam que era uma despedida, um adeus... Adeus.

Mas mesmo assim, isso não deixou de fazer daquele momento um momento especial...

- I’m sorry... I Love You!

- I love you too.

Ambos permaneceram abraçados por um tempo, não queriam se soltar, pois sabiam que quando seus braços deixassem de se tocar, que quando eles não sentissem mais o corpo um do outro, seria o verdadeiro adeus.

A chuva dissipara-se lentamente, uma pequena brisa deliciosamente fina passava por entre ambos. Os primeiros, belos e mágicos raios de sol após aquela tempestade aqueciam os dois corpos frios e molhados que se soltavam lentamente