Produtos da Espera
Elevador do caralho... Por que tenho que me rebelar contra um robô? Parece ridículo e soa até romântico e exagerado dizer que esse filho da puta me odeia, mas eu não vejo outra explicação pra esse troço me trapacear o dia todo.
Considerar-me-ia um preguiçoso por se tratar de apenas três andares mas o problema é que preciso me deslocar entre o quinto e o oitavo umas trinta e cinco vezes por dia, pelo menos... Faz as contas. E, pra piorar, esses restaurantes metidos a besta da Paulista são uma mendicância só com o feijão; como se eu estivesse pagando o mesmo preço do Bom Prato e não o absurdo que realmente é, por exemplo. E ainda tem as escadas dos bancos, do Metrô e os dois ou três degraus de cada um dos seis ônibus que eu pego por dia isso só pra ir e voltar do trabalho, pois tem dia que faço algumas missões na rua que preciso pegar ônibus e/ou Metrô. Faz as contas. Pode me achar maçante por reclamar de um reles elevador enquanto tem gente por aí sofrendo de verdade, mas a minha verdade é que eu não dou a mínima pra quem eu não conheço ou não tenho apreço.
E foi no elevador que dois rapazes bem vestidos demonstraram sua indignação com esse prato cheio pra jornalistas e religiosos especuladores que o atirador-suicida do Rio propiciou que fiquei tentado a malhar minhas panturrilhas na subida do térreo ao oitavo. Mas não o fiz. Deus que me livre ficar com as pernas mais bambas que o normal no final do dia! Mas agora esse assunto desagradável vai povoar o ar em todo lugar... que é falta de Deus (como se o excesso Dele não tivesse mandado uns bons defuntos pro caixão) e que é o fim dos tempos e blablablá looping infinito. Qual é a novidade? Vou me impressionar quando alguém entrar numa sala de aula soltando raio laser pelos olhos e bolas de fogo pelas ventas; não tem como se impressionar com mais nada de ruim que parte do ser humano depois de Hitler, Mussolini, Bin Laden, Elias Maluco, Charles Manson, Gary Gilmore; depois da caça às bruxas, das covas dos leões, dos Nardoni... Eu até poderia me aprofundar e ser hipócrita por não ser vegetariano comentando sobre a preparação da vitela, mas prefiro me abster disto - apesar de já entrar no assunto - e deixar que essa cambada faça um minuto de silêncio por uma perda que não lhes diz respeito diante de uma cumbuca de feijoada com bastante orelha de porco e com o leve peso no ombro por um ou dois envenenamento de gatos e/ou pedrada em cães de rua em noites de saco cheio ou pura farra, respectivamente. Fiquei meio puto da cara de estar almoçando e a televisão estar ligada mostrando velório e mães chorando e todo o lugar ficar de pescoço virado pra televisão cheios de compaixão (até o domingo, que é onde o assunto é dissecado fria e cuidadosamente pelos coveiros do Fantástico e depois todo mundo esquece o que aconteceu até o próximo "psicopata" surgir - exceto as pessoas próximas das vítimas que sentem inenarrável dor da perda.) Enfim.
Agora, esse elevador, cara, esse sim é uma novidade do caralho na minha vida tão pacata e, porém, cheia de novidades degradantes do gênero.
Estou no quinto, diante da porta do cretino e o marcador indica que ele está subindo. Segundo, terceiro, quarto, quinto... mas ao invés de parar, ele passa direto e pára no nono. Daí ele desce e a porta abre. Então ele desce até o térreo pra depois subir até o oitavo - por nada, já que ninguém entrou. E quando ele pára no andar correto mas a porta não abre? Aí tenho que subir ou descer um andar pra conseguir sair e finalizar o trajeto na escada. Haja pernas e haja e aja paciência.
Detesto chegar lá em cima arfando; a cada subidinha pulverizando um pouco do desodorante que passei às sete da manhã e que mancha todas as minhas camisetas e petrifica a região das axilas.
Pior é encarar as escadas na descida: alguma puta deve ter sido jogada dessa porra em alguma época remota porque assim que eu avanço no primeiro degrau já começo a pensar em sexo. E, pra não fomentar desejos irrealizáveis na atual conjuntura - a menos que eu descole uma tábua ouija e tente um flerte com esse suposto Espírito da Escada - eu espero o elevador com toda a preguiça de viver do mundo e então ele vem, trazendo do décimo um daqueles tipos de mulher que são boas demais pra qualquer um e eu acabo dando aquela esticada até o térreo só pra sentir o latejar da característica e dolorosa certeza de mais uma coisa boa perdida - sem ter sido sequer batalhada por; é sem chance mesmo, neguinho! - enquanto contemplo as ancas balouçantes ficando cada vez mais longe dos meus delírios e dentes.
Hoje eu ganhei um daqueles sorrisos que parcamente velam nuances, no outro elevador - o elevador chique. O que me passa a perna, que é o dos fundos, estava sendo carregado com blocos e sacos de cimento. O sorriso, pra variar, veio alguém que não me despertou interesse. Ah, vá! Não é só por que a coisa tá feia que eu vou acatar tudo que me impingem só por contentamento.
Caralho, meu pulso dói de tanto redigir esse texto. Redigi tudo na fila do banco. Na fila dos bancos. Imagina a lástima das minhas pernas no final do dia! Aliás, vocês deveriam me reembolsar pelo serviço prestado. Viu como o maracujá tá caro? E eu te dando sono de graça...
É que não ando tendo tempo de sentar no computador e escrever. Tá foda pra caralho, eu ando chegando em casa de saco realmente cheio. Meio puto, meio aviltado, meio deprimido, meio enveadado, meio necessitado de uma trepada homérica, de beijinhos na sarjeta e de ratazanas guinchando anátemas com o rabo preso na ratoeira - qualquer tipo de ação que não a de acordar querendo morrer e passar o dia querendo matar e ir dormir pensando na barba que cresce e no potencial que mingua e no plantio de uma árvore no quintal pra me pendurar que nem um bicho-preguiça ou então pra me enforcar.
Escrevi uma espécie de diário quando estava no auge da minha vagabundagem no início deste ano ("Semana Offline") e ocorrou-me que seria (des)interessante escrever um agora que mal tenho tempo pra bater uma punheta sem pressa. Vamos ver.
Tial.
08/04/2011 - 15h51m