Manhã de outono..
A manhã expirava outono. Cheirava folhas amarelas. Rosas despetaladas. Tangerinas salpicadas de sereno da madrugada. Uma brisa fresca balançava meus pensamentos. Levantei-me atrasada. Troquei-me. Tomei um gole de café, outro de alegria e fui para missa. O sol nem havia mostrado sua graça. Mas, o dia seria de rosas, ou de cravos, margaridas! Ao passar pela viela interna do Santuário, vi um andarilho que dormia o sono dos deuses sobre a grama orvalhada, coberto até à cabeça apenas por um papel TNT roto, sujo, fétido! Meu coração sangrou de tristeza. Logo em seguida, apareceu um “doutor” frequentador assíduo do local. Deu ré em sua Mercedes classe A , estacionou bem à frente do andarilho. Fiquei de butuca. Na verdade, fiz questão que ele me visse ali. Queria ver se ele iria expulsá-lo. Ou, então, recolhê-lo. Fazer enfim, alguma coisa. Nada. Desceu do carro e, a passos largos, foi em direção ao Templo. Com certeza para não perder o Ato Penitencial. Colocou o veículo ali só para intimidar o infeliz. Uma mulher passou e ficou olhando. Outra passou e comentou qualquer coisa. Muitos passaram e seguiram seus caminhos. Lembrei-me da parábola do bom Samaritano. Participei da missa ruminando aquela passagem. Saí bem depressa e fui para casa. Peguei uma coberta, uns pães, umas frutas e levei para o pobre coitado. Rezando para que ele ali ainda estivesse. Seus olhos sorriram. Agradeceu educadamente. Abençoou-me. Levantou-se, pegou sua sacola de latas amassadas e partiu. Meu coração ainda partido, batia mais aliviado, era o mínimo que podia fazer. No dia seguinte, caminhando pelas ruas do bairro, lá estava o pobre homem, quase nu, tomando uns tragos de cachaça pra se aquecer do frio...
Benvinda Palma