OS CACOS DO "NOTEBOOK"

Ela estava mesmo entre a cruz e a cladeirinha, parecia que quanto mais dava braçadas, mais ia ao fundo neste mar em que vinha se debatendo há tempos. Um mar pesado, duro, aonde os braços doíam pelo esforço repetido para se manter viva e inteira. Estaria perdendo o juízo? Estaria ficando paranóica? Que quanto mais avaliava a situação, mais lhe parecia que havia algo muito esquisito e mal explicado. Sabe quando a gente percorre um raciocínio tentando usar a lógica e esta

nos escapa como água entre os dedos e se perde em muitos atalhos?

Maria Eunice se debatia como nunca. Podia simplesmente virar as costas, esquecer tudo, era só desligar o computador para sempre, ou mudar a conta do "gmail", nunca mais acessar o blog do distinto, mas algo a mantinha travada naquela teimosia estéril. E não chegava a lugar nenhum. Seguia pistas e sempre acabava confusa. Seus nervos à flor da pele muitas vezes faziam com que seu raciocínio falhasse e tinha vontade de jogar tudo pra cima, e se jogar ladeira abaixo, ah, podia morrer, pensava. Afinal já vivera bastante e a vida não lhe sorria mais como aos vinte anos.

Nesse ir e vir insano, parecia andar em círculos. Havia perguntas demais, dúvidas em excesso impedindo uma visão clara, ou seria esta cegueira uma defesa, um último e desesperado recurso para não ver o que seus olhos tinham bem diante de si? Mas realidades são expressas de diferentes formas e um NÃO bem que poderia ser um TALVEZ disfarçado. "Desejo continuar conversando com você", ele dissera, o que bem podia ser uma forma de ele querer manter um vínculo que com o tempo... ah, mas que tempo, que vínculo? Conversas virtuais não constroem vínculos, pelo menos não do jeito que ela desejava. Por que os homens não sabem terminar o que começam? Por que a gente não quer que eles terminem e se agarra a qualquer detalhe para construir uma possibilidade de manter o que na verdade nem exisitiu direito? E uma amiga ainda lhe dissera: no amor é o mesmo que na briga... quando um não quer...

Já amanhecia quando ela acordou. Estava sentada diante da escrivaninha e lá no chão o notebook jogado e finalmente mudo. Deu um grito e tentou juntar os pedaços.

Um sol ralo iluminava a sala em rajadas de luz baça.

Maria Eunice tentava juntar, na verdade, eram os seu próprios cacos de uma vida que parecia não ter mais horizontes...

Denyria
Enviado por Denyria em 09/04/2011
Reeditado em 26/05/2011
Código do texto: T2899162
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