Fast food

Se algum incauto leitor chegou a este texto pensando tratar-se de um escrito em inglês sobre alimentações rápidas, peço desculpas. Esta crônica é apenas uma forma que encontrei de passar o tempo em um shopping da cidade, enquanto espero a sessão do filme que vim assistir começar.

São 13h30min. A praça de alimentação do shopping está lotada. Pessoas almoçando, casais bebericando uma bebida enquanto conversam animadamente, suas mãos se tocam, seus olhos brilham. Podem estar se conhecendo, iniciando um namoro, comemorando alguma data festiva. Há casais que estão em silêncio. Estes devem estar casados há muito tempo, e já não tem mais o que conversar. Constituem-se em estorvo e enfado para ambos.

Há muitas famílias também. Papais, mamães, vovós, filhinhos e filhinhas... Famílias extensas que ocupam várias mesas e provocam uma balbúrdia de sons: o barulho dos talheres nos pratos, o choro das crianças, o mastigar inconveniente dos dentes postiços da vovó, que além de tudo grita, pois já ficou meio surda e para se ouvir falando tem que urrar. O gargalhar do papai, que saboreia um chopp gelado, enquanto acaricia sua barriga de meia idade e se diverte com a bagunça que os pimpolhos aprontam; e os berros da mamãe tentando acalmar os pestinhas, fazer-se ouvir pela vovó e xingar o papai.

Há tantos adolescentes espalhados pelas mesas. Constituem vários grupos, agigantam o alarido do shopping. Trajam vestes coloridas, tênis Nike, imitam os cortes de cabelo de seus ídolos da música ou do futebol, ou o penteado da mocinha da novela.

Executivos engravatados, garotas de programas de roupas curtas e super coladas, mulheres cheias de sacolas, a corrida das comerciárias em horário de almoço, nerds almoçando e de olho grudados em seus notebooks. Enfim, um sem número de tipos das mais variadas estirpes.

Olho para o relógio. Minha hora chegou. Parto em disparada para a sala do cinema. Não sei se foi boa idéia ter vindo ao cinema hoje. Sinto-me enfastiado do cheiro de fast food do shopping. Entro na sala de projeção com um sentimento de saudade e nostalgia dos antigos cinemas do centro da cidade e dos subúrbios, e do quanto era mais agradável ir ao cinema no passado. Sem shoppings, sem praças de alimentação, sem tanto barulho. Creio que da próxima vez esperarei o lançamento do filme em DVD.

Marcio de Souza
Enviado por Marcio de Souza em 09/04/2011
Reeditado em 20/04/2011
Código do texto: T2898424
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