Porque ela amava

Janeiro 5, 2011 por Suzana Nogueira

BLOG LÍRIO URBANO

A vida “normal a dois” deveria ser o suficiente para vivermos bem, com doses de emoção desmedida e pitadas de prudência. Ser corajoso, impetuoso é bom, mas ser irresponsável, extremista e arrastar o outro pelo caminho como tempestades é que deveria ser proibido. Era assim que ela pensava, era assim que ela sentia. Nunca precisou de grandes arroubos “sentimentalescos”, mas quando dizia amar alguém, amava. Não havia meio termo. Para ela, dizer ou expressar sentimentos sempre foi custoso. Desnecessariamente sofrido. Mas quando se libertava, simplesmente amava. No sentido mais casto e mais intenso da palavra: ela AMAVA.

E quando menos esperava o chão se abriu sobre seus pés. Tudo a sua volta desabou. Não havia mais sonhos, cor, perfume. Não havia mais leveza. Aquele aparente amor, dito olhos nos olhos, fantasiado de sinceridade, a estraçalhava. Como seria ter um amor saudável, como seria ser saudável com aquele que estava a seu lado? O fim seria a medida mais certa ou o erro mais covarde? Ela já não sabia. Só tinha porquês e não respostas. Em meio a um turbilhão de pensamentos, encontrou o mais torturante, que dizia:

-Não adianta perguntar a outros que viveram o que você vive, eles também não tem a resposta. Saiba que você também não a terá.

E naquele instante um lindo pássaro passou à sua frente, deu um verdadeiro rasante entre a copa da árvore e o solo. Parecia que queria ser notado por ela. Carregava uma pequenina e singela pétala, de uma flor amarela qualquer, mas o coração dela não se alegrou. Olhava e não via. Logo ela que sempre se encantou com o que realmente importava: a vida pulsante a seu redor. Esnobou vorazmente aquela imagem. A anestesia do nada sentir parecia mais fácil, mais confortável.

O que aconteceu com ela? Será que se apagou? Será mesmo necessário viver em busca de respostas e explicações? Logo ela que gostava da vida mais simples… Ela só conseguia pensar em escrever, era a forma com organizava as ideias. Mas até seus escapes, seus textos onde conseguia se observar com maior exatidão eram truncados, sofríveis. Em seu íntimo sabia que uma cova havia sido aberta. Seu algoz a jogara dentro sem piedade. Dera-lhe um corte certeiro em pleno coração. Machucada, ela não suportou tamanha dor. Caiu em desespero.

Ainda estava viva enquanto agonizava já soterrada e sem ar, dentro daquele minúsculo lugar. O coração ainda batia, mas tão descompassado e desesperado que passou a acreditar que não agüentaria tamanha dor a tempo de ser salva. Como ela era ingênua. Queria ser salva por aquele que a encerrou ali, sozinha. E, assim, seguia num luto de si mesma, a espera de um milagre que a traga novamente a existência. Não sabia mais o que era amar. Talvez ela nunca saiba.

“Separados quem somos? Somos um canal de televisão que saiu do ar e como ninguém desliga o aparelho de TV fica aquele chiado incomodando no escuro. Somos a lembrança de beijo que não foi dado; Se você não queria ser feliz comigo, saberá ser infeliz sozinho.”

Trecho: O Divã por Martha Medeiros