Tragédia no Rio de Janeiro

Talvez uma infância marcada por Bullying, afinal era adotado e tinha ciência disso. Pelo alvo maior de suas vitimas – meninas – poderia até traçar um roteiro de um fato marcante na sua vida por volta dos seus 12-15 anos que marcariam sua vida até o seu fim.

“Uma daquelas paixonites na escola, uma menina lhe nega atenção e não corresponde ao seu amor, lhe trata mal, ele por já sofrer Bullying acaba sofrendo um pouco mais entrando numa depressão infantil que lhe acarretaria um grande trauma, em conseqüência um transtorno psicológico.” Afinal sua mãe biológica tinha sinais de esquizofrenia.

Ou ainda a má compreensão de algumas verdades/sabedoria/idéias defendidas por sua religião (ele era “Testemunha de Jeová”). Tantas menções à Deus, pureza, sinais de superioridade, virgindade... O fanatismo da família adotiva, dele incluso, foi revelado por vizinhos próximos à família. E devo dizer que, sim, as crenças dos que se dizem Testemunhas de Jeová são um tanto mal compreendidas por seus “Estudantes da Bíblia” e também, não devo ser rude nesta parte, por quem está de fora da religião. Pelo que sei os fatos mais corriqueiramente comentados são a suspensão da necessidade de alistamento no serviço militar obrigatório para homens (já que não podem ser partidários políticos) e a recusa da doação/recepção de sangue se alguém em risco de vida precisa.

Quero deixar aqui exposta a minha revolta. Se fosse um homem com suspeitas de ser bruxo, wiccano ou ao menos esotérico, eu teria de esconder meus símbolos e explicar para o mundo novamente a minha religião, pois com certeza a culpariam do ocorrido. Diriam que foi um ato ritualístico de magia negra e tudo estaria certo. Mas como ele e muitos outros assassinos são cristão, nada se comentam sobre um fato que pode sim levar outra a matar: fanatismo (vide a Inquisição).

Não pude deixar de lembrar de Squegel – de O Grau 26 – ao ler sua carta.

Talvez fosse um psicopata que encontrou na fé sustentações para sua possível raiva reprimida – por mulheres e crianças no âmbito escolar. Os registros tão “normais” de sua passagem na escola municipal de Realengo e seu comportamento dão-me informações em suas entrelinhas que realmente me fazem crer que ele foi marcado pelo Bullying e rejeição amorosa.

Junte isso a uma fé fanática – que tem o costume histórico de distorcer fundamentos e conceitos (e não restrinjo à nenhuma religião, quando falo “fé”, falo no geral) – e ainda uma possível rejeição ao sexo oposto, quando não uma reação em cadeia da Síndrome da Ostra (isolamento social e afetivo, típico de pessoas antissociais) que acarretaria numa virgindade tardia (que talvez lhe perturbe psicologicamente, já que os hormônios, literalmente, se explodem na faixa dos 20 anos de idade). Acrescentando uma esquizofrenia patológica, temos um psicopata.

Um frio psicopata que arquitetou todos os seus passos para o único ato malévolo que lhe fora reservado e lhe consagrou como o primeiro homem a fazer um massacre numa escola do Brasil. É difícil de explicar, ou meso achar uma explanação sobre como ele conseguiu as armas e os outros materiais. Mas ele tinha uma constante fonte que lhe dava acesso aos mais variados assuntos possíveis: Internet. Não estranharia se alguém, que se dispusesse a pesquisar sobre armamento e como treinar com certos equipamentos bélicos na internet, encontrasse todas as informações necessárias. Talvez o assassino – me recuso a citar seu nome sujo – tenha conseguido acesso a tais informações pesquisando bem na internet.

Seu “modus operandi” fala muito sobre ele, talvez psicólogos forenses tenham tido o mesmo insight que eu. A escolha da escola, suas principais vítimas, seu comportamento, sua preparação de vestes – segundo um vizinho, ele mantinha-se vestido de preto –, a carta, o próprio suicídio (nem matar-lhe os “impuros” podiam), enfim.

A tragédia nos deixa de coração apertado, esperado uma mudança na linha dos acontecimentos. Esperando uma proteção em casa (hoje em dia à violência já alcançou o seu portão), esperando freios eficazes para tanta violência, esperando, esperando... Mas não é esperando de Esperança. Pois a esperança ainda nos faz acreditar e rumar para o objetivo. É a Espera propriamente dita, aquela que só lamenta de braços cruzados e nada faz para mudar a situação atual.

Rezo aos deuses que nenhum caso semelhante a esse venha a acontecer, nenhum caso próximo a esse venha a acontecer e se acontecer que desperte a revolta nacional de maneira mais marcante. Que uma reportagem bem feita (parabéns ao Jornal Nacional pela cobertura perfeita), mensagem de luto e revolta na internet, minutos de silencio não sejam o suficiente para calar a voz de um país que pede justiça. Que avancemos neste quesito.

Que o Bullying, tão ignorado antes e tão repreendido e combatido hoje, pare de criar monstros como estes, assim como pessoas frágeis. Que a violência de um modo geral seja combatida comas poucas e verdadeiras armas brancas que nos restam e que um dia nós possamos voltar a ficar no portão de casa até a madrugada sem medo, ir a escola sem perigos no caminho até lá e dentro dela... Que possamos ser livres novamente sem as prisões que nós mesmos criamos.

É o que peço.

Lua Silva. 7 de abril de 2011

Luan Silva
Enviado por Luan Silva em 07/04/2011
Código do texto: T2895670
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