Toda a Vida
em respeito aos Brasileirinhos de Realengo
Isso não é (ou não era) coisa de Brasil. Está mais para a Europa e Estados Unidos, sobretudo. Mas, com essa globalização toda, a internet penetra em nossas cabeças como um vírus, e se não contarmos com anticorpos ou estivermos com baixa imunidade, pode dar na tragédia que deu hoje em Realengo, Zona Oeste do Rio, não tão privilegiada como a Zona Sul.
Seria injusto responsabilizarmos a internet. Ela, no frigir dos ovos, é apenas uma tela, que para ter vida precisa ser acionada. A alusão que faço decorre do que li agora: “Ele entrava na internet para ter acesso a coisas que não fazem parte do nosso povo”.
De qualquer modo, torna-se cada vez mais clara a necessidade de que em nossas escolas, desde o Ensino Fundamental até à Universidade, tivéssemos uma disciplina que, na falta de um nome melhor, poderia se chamar Toda a Vida.
Não teria como escopo ensinar a vida a ninguém. Mas discutir os seus diferentes aspectos e valores, peculiares a cada faixa etária, priorizando o hábito da reflexão entre os alunos (crianças ou adultos). É preciso que aprendamos a pensar. O que pode impedir o desenvolvimento, por exemplo, de esquizofrenias que muitas vezes importamos para as nossas cabeças sem nem mesmo chegarmos à menor noção do que possam significar. E descobrirmos então que não fazem qualquer sentido.
Essa seria talvez a possibilidade de formação ideal do cidadão. Quem sabe até alguns psicopatas enxergassem eles mesmos a chance de uma redefinição quanto à sua trajetória. Teríamos cidadãos com recursos para avaliar a fragilidade ou o vigor da sua Constituição; políticos realmente capazes de representar os interesses dos seus eleitores; maridos e mulheres conhecendo-se melhor e com maiores chances de viver um relacionamento conjugal exitoso; cidadãos com elementos para entender o que pode estar atrás da proliferação acentuada de igrejas em nossos dias; etc., etc.
O problema é que juntamos tudo o que está do lado de fora e processamos, como se fôssemos um liquidificador. Normalmente não nos aprofundamos na análise do material. Na verdade ela já nos é apresentada a priori como se fosse a ideal, uma espécie de receita de bolo ou bula de remédio.
De resto só podemos lamentar a vida desses brasileirinhos, como disse uma de nossas autoridades, que hoje deixaram de existir e que a abordagem da disciplina a que me referi fique restrita às diferentes condições de cada família, quando elas existem.