Tchau tia Adelina
Nome muito pronunciado pelos seus inúmeros sobrinhos, os filhos que ela nunca teve. Tia Adelina não era apenas um “pronome” de tratamento, mas tornou-se vocativo cheio de múltiplos significados.
Chamar por tia Adelina ou falar sobre ela era evocar, no mesmo instante, seu jeito singular de ser: os gestos que só ela sabia fazer, a voz inconfundível, a espontaneidade e acima de tudo as brincadeiras jocosas que nunca mais veremos.
Tia Adelina: Muito franca, positiva, aparentava uma fortaleza que na verdade não tinha. A vida lhe deixou marcas, e ela as foi vencendo, uma a uma da maneira que lhe era possível, de sorte que não é exagero dizermos que ela agiu como a última dos moicanos, pois todos os seus irmãos a precederam na passagem desta para a outra vida. Talvez a marca mais difícil de ser vencida, e que pode até tê-la vencido, tenha sido a partida de seu querido “Antoim”, há pouco mais de sete meses.
Ela já estava muito calejada, não murmurava, apenas dizia: “Como meu irmão me faz falta!”. Pois bem, tia Adelina, hoje ele já não lhe faz falta, uma vez que, pela fé, sabemos que vocês se reencontraram, não só a senhora e ele, mas também Mãe Nana, tio Gindurino, Vovó Mocinha, Tia Téia... Enfim, os que lhe faziam falta. Hoje quem nos faz falta é a senhora, que foi chamada às pressas por Deus e conservou até o último respiro as brincadeiras que fazia.
Seu temperamento, tia Adelina, ah, como não falar neste aspecto? Pois até com raiva a senhora nos fazia rir, não tinha jeito: Impulsiva, sanguínea, emotiva, passional e com um coração maior que os seus quase noventa anos de vida. Chorava com a mesma facilidade que sorria, em suma, era uma caixinha de emoções e sentimentos.
Uma católica fervorosa, apaixonada por Jesus, a quem sempre chamava de Nosso Senhor. Devota ferrenha de Maria Santíssima e de Santana. Amava os padres e foi por muitos anos presidente da OVS: “Obra de Vocações Sacerdotais”, promovendo encontros animados na Escola de Nossa Senhora com alimentação e acolhida para os vocacionados de todo o Seridó.
Enquanto podia caminhar livremente nunca mediu esforços para ajudar à paróquia, angariando prendas para o leilão de Santana de loja em loja, promovendo as festividades do pavilhão, comparecendo a todas as novenas e levando o estandarte da Confraria do Rosário (da qual também era presidente) pelo longo percurso da procissão de nossa padroeira. Lembro-me de que, envaidecida, a senhora dizia que aquele era o estandarte mais belo, e era mesmo.
A senhora foi uma das pessoas mais apaixonadas por Currais Novos que eu conheci em toda a minha vida, sempre dizia maravilhas de sua cidade e admirava-se quando saía e via novas construções, falava em progresso ao repetir sempre; “ Currais Novos ta crescendo muito!”.
Muitas coisas sempre foram parecidas com a senhora, como se tivessem se fundido á sua pessoa: O segundo banco do lado esquerdo da matriz, onde assistia as Missas, a VPA, a calçada e a área de sua casa, a fé, a tradição, o apego àqueles aos quais queria bem. Sua casa lhe era tão cara, o lugar melhor do mundo para a senhora. Agora a sua casa é uma das muitas moradas que Jesus disse existirem na casa do Pai. Saiba que sua presença é imortal, não apenas pela fé, mas porque com seu jeito a senhora conseguiu cativar muita gente, inclusive cada um de meus amigos e amigas, que sempre faziam questão de conhecê-la e conversar com a senhora. Aqui está uma parte expressiva daqueles que lhe amam e que vieram lhe dizer “Tchau”...
Vá em paz, Tia Adelina, e nos perdoe, mas a quisemos mais perto de nós materialmente falando. Vá para a casa do Pai, e lhe entregaremos á mãe terra aqui: No Morada da Paz!.
Por Thomas Saldanha
Um dos seus sobrinhos que muito lhe quer bem.
Crônica que li em sua Missa de corpo presente, no Cemitério Morada da Paz, ás dez horas da manhã da quarta-feira dia 08 de dezembro de 2010. Solenidade da imaculada Conceição.
PS: Hoje, dia 06 de abril de 2010 completam-se quatro meses de sua volta à Casa do Pai.