GULA LITERÁRIA NA MISCELÂNEA DUM COTIDIANO

Quando abri minha página para aqui escrever eu pretendia falar sobre muitos assuntos. Foi difícil escolher porque a variedade deles é infindável.

A vida tem disso, graças a Deus, e a transcrição dela também, posto que nunca conseguimos parar os fatos e as fotografias literárias dum tempo.

Mas nossos dedos tem lá os seus limites...

Pois bem, eu poderia escrever sobre a poluição de São Paulo, ou sobre o seu trânsito infernal, sem solução, por mais que o animado Kassab anuncie aos quatro ventos que resolveu o problema (aonde senhor prefeito, mostra pra gente!); eu poderia citar todos os projetos globais para denunciar e controlar o lixo da cidade, eu poderia falar dos mais recentes projetos "controlar e respirar" e também do fato de que ônibus, caminhôes, veículos oficiais e peruas escolares poluem livremente a olhos vistos, eu poderia comentar a denúncia de lamentável e já esperada corrupção nas inspecções veiculares, notícia que hoje pipocou na mídia, falar dos rios, da dengue tipo quatro, dos mosquitos que se reproduzem a céu aberto pela sujeira dos espaços públicos, das filas nos hospitais que dão notícias à tendenciosa mídia, da violência urbana que não pára nunca, que aliás, por Sampa está vitimando inclusive as residências das excelências dos ditos senhores políticos, enfim...de quanta coisa eu poderia falar, percebem?

Porém uma notícia me despertou maior interesse, aliás, uma notícia de rosto dum site da web, que até nos inspira o alimento pela Paz d espírito, apesar de lesar o bolso do Cristão mais simplório, desde que abastado...e bastante exigente no paladar.

A noticia não é novidade, mas sempre que a vejo, quero escrever.

Trata-se do famoso Brunch do Mosteiro São Bento, localizado na região histórica de Sampa, aonde todos os últimos domingos do mês podemos exercitar o pecado Capital Gula, aqui na capital, sob a paz dos cantos gregorianos, pela bagatela de quase cem reais por pessoa.

Uma família cristã da "classe alta" penso eu, média em número de quatro pessoas, por três quartos dum irrisório salário mínimo, disponível para uma fatia de horas duma manhã ensolarada ou nublada de domingo (todas as manhãs são abençoadas pelas badaladas dali),poderá se empanturrar com todas as delícias das prováveis receitas da descendência europeia.

Hummmmm...estão concorrendo com a loura do louro.Só falta o livro d ereceitas do Mosteiro. Fica a ideia.

Aliás,a ideia de lá é dos gênios da gastronomia teológica, que não é apenas privilégio do mosteiro São Bento, não.

Em Campos do Jordão, por exemplo, o mosteiro das monjas Beneditinas também comercializa alguns pães e doces imperdíveis. Hum...vale prová-los! Bem mais acessíveis ao pobre cristão.

Temos a impressão , ao degustar aqueles pães, que todos os nossos pecados, não apenas os da gula mas os de toda a nossa faminta existência, já estarão perdoados.

Tempos modernos pedem por indulgências modernas, afinal, numa sociedade capitalista todos temos que nos defender de alguma forma.

Mas aqui em Sampa, não basta o dízimo e as palmas públicas para os dizimistas não...há que se ter o glamour do qual nada escapa.

Posso sugerir, como Cristã católica, um descontinho aos caros frades do mosteiro? Caríssimos irmãos, daria para baratear as guloseimas àqueles mais povão, a despeito do disparo da inflação?

Cadê a caridade? Ops, claro, arrecadaremos em prol dela, ia me esquecendo...e depois, logicamente que até a caridade inflaciona neste mundo bem, bem abaixo dos céus...

O tempo gira, a humanidade se recicla, mudam os protagonistas, os coadjuvantes, os cenários, os diretores de cena, porém, os enredos fecham suas cortinas nos mesmos "the end" de sempre.

Só não sei lhes dizer se os "contra- regras" sobreviverão incólumes ao longo da tão repetida História...

Hoje eu entendo porque meu pai, lá nos meus remotos tempos de criança, sempre me comentava: "Vida de padre, filha, fulano tem vida de padre..." É, tá certo, difícil mesmo é vida de povo... fiel!

Há ensinamentos que só os entendemos com o silencioso passar do tempo.

Vou parando por aqui sob o risco de me recrudescer na mais última novidade em doença da moda que hoje também é notícia, uma espécie de LER (lesão por esforço repetitivo) dos fanáticos usuários de laptops: a laptoptite! Mais um luxo da modernidade!

Então...por enquanto...só irei lhes desejar:

Bon appetit, para quem puder.

Amém.