CACHORROS NA MINHA VIDA

Agora me dou conta que tive vários cachorros na minha vida, embora nenhum eu escolhi; fui escolhida pela maioria e devo ter feito por onde. Sabe-se que o cachorro faz opção por um dono. Animal tem sensibilidade para saber quem o quer mesmo ou finge. Quando tinha por volta de uns oito anos, chegou lá em casa o Rex. Cachorro vira-lata, preto com uma coleira de pelos brancos e de porte médio. Foi por muito tempo meu companheiro de brincadeiras; não cuidava dele porque tinha quem fizesse isso. Já aos onze, doze anos, estudando em Maceió e voltando a União,minha terra, fazia sempre a viagem de trem. Minha

rua dava direto na estação e ao começar a subir a ladeira para minha casa, descia o Rex em total felicidade para me saudar e vinha pulando de alegria, como um amigo querido e fiel que vai ao encontro de sua dona. Minha casa tinha um corredor comprido e ele disparava para um lado e outro; não conto as vezes que nos seus pinotes me derrubou. Um dia ele sumiu e meu pai bateu tudo procurando, até que foi informado que morreu atropelado. Foi a minha primeira e grande perda. Quando cheguei, meus pais contaram, porque não tinha como me poupar do sofrimento. Chorei, amarguei e não mais quiseram outro cachorro e eu achei certo.

O tempo passa e minha filha Edinha pede de presente ao pai, pelo seu aniversário de doze anos, um beagle. Foram várias idas aos canis. Lá ia eu também fazer a escolha. Cheguei a me entusiasmar por um, mas infelizmente, tinha nascido com os cílios voltados para dentro e pagar caro já com defeito infelizmente não dava; foi recusado e surgiu o Conan, lindão. E agora? Como cuidar? Tinha que sobrar para mim e foi o que aconteceu. Comprei um livro “Beagle” e fui estudar o comportamento dos que possuem esta raça. Era "criança" e me deu alguns prejuízos, como rasgar meu sofá de couro, rasgar camisas penduradas no varal; brincadeiras ocupando o tempo. Tinha raiva, mas passava.

Ao mudarmos de casa para apartamento e por lá ser proibida até visita de cachorro, fomos obrigados a levar o Conan para a casa de praia. Como ficar o cachorro ? Só o caseiro não era o suficiente para dar o carinho que era acostumado a ter. Em uma viagem ao Rio de Janeiro, estava havendo uma feira de animais na Zona Norte, em um Shopping. Fomos parar naquele fim de mundo e encomendamos uma cachorra para “casar” com o Conan. Metade do dinheiro pago à veterinária e esperar. Veio a notícia, ia chegar e já era adulta. O receio nosso era que ela não se desse bem com o Conan; há casos que macho e fêmea não se integram. Fiz o “enxoval” e fui com duas colegas de trabalho da Universidade buscá-la. Surgiu a donzela, toda alvoroçada. E aí? Como se dar bem um da roça, com uma desembestada carioca? Batizamos ela por Laika, em homenagem a primeira cachorra russa que foi ao infinito no satélite Sputinik.

O Conan ficou feliz com a Laika e tiveram muitos filhos. Ela era doidinha de pedra e ele um lorde, quieto, sério e afetuoso. No final de semana que não ia à praia ela ficava aperreada, cheirava e rondava o carro o tempo todo, assim Dídimo me falava. Primeiro adoeceu o Conan, teve Leishmaniose e morreu. Esta doença infeliz ataca muito a região norte do Estado. Já a Laika três anos depois morreu de câncer. Muito triste.

Com a partida de Dídimo, Edinha me traz o Zizu, em homenagem ao jogador alemão Zidane, da raça yorkshire. Sei que é bom ter um animal para companhia, só que não precisei até agora e devolvi. Vez por outra vem passar um final de semana comigo; a gente brinca, cuido, dou atenção e carinho; eu gosto, mas não o quero para ficar comigo. Não quero mais lidar com perdas, embora sei que ninguém está livre de perder. Sei o quanto foi bom estes cachorros que passaram na minha vida. Suas lembranças me bastam. Tenho histórias várias com eles.

Edméa
Enviado por Edméa em 05/04/2011
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