YIN - YANG
Numa mesa próxima, um jovem casal conversa. Ela tem o nariz vermelho e ele, inclinado em sua direção, ora argumenta, ora apenas ouve. Parece aflito. Perplexo. E sinto uma súbita compaixão por esse jovem ser atrapalhado que se inicia na extraordinária complexidade do universo feminino. De repente, seu modo objetivo de pensar e agir se depara com esse ser abissal e inescrutável: a mulher. A arquitetura masculina tem sinalizações muito claras: fome, comer; sede, beber; necessidade de sexo, transar; sono, dormir. (Quase sempre, nessa ordem...)
Não digo que sejam simplistas, porque são capazes de fantásticas construções mentais no mundo lógico. Mas não se pode negar sua freqüente inépcia e perplexidade diante desse ser verbal que dá nome e significado a tudo.
Às vezes invejo essa clareza plana e sem acidentes. Mas, ao mesmo tempo, tenho a secreta alegria de pertencer ao gênero que vê ou inventa significados e lê nas entrelinhas e recria diariamente seu rico universo interior, cheio de intenções e sentimentos.
Sem essa transcendência, como refazer camas, separar a roupa suja e cuidar dos pequenos nadas do dia-a-dia ou – no meio do preparo do jantar – sobreviver à súbita falta do gás?