Vida e arte

Estamos acostumados a ouvir que o cinema cria estórias e imagens “de cinema”. Sabe-se o que isto significa: pura imaginação! Ficção normalmente inverossímil, forjada nos truques e, ultimamente, nos computadores poderosíssimos, capazes de criar virtualmente imagens que se confundem com a realidade em mãos talentosas e criativas e de quem produz os concept art, store board, etc. Porém a imaginação dos roteiristas e diretores, em algumas oportunidades, foi superada por uma realidade ainda mais fantástica de que seus exercícios de ousadia.

A primeira imagem que deve estar passando na cabeça de quem lê este texto é a do atentado às torres gêmeas de Nova Yorque e o próprio ataque ao pentágono. Hollywood não foi capaz de chegar a tanto. Ultimamente vimos uns 03 filmes sobre tsunamis: O dia depois de amanhã, Impacto profundo e o “hecatômbico” 2012. Nestes casos poderíamos dizer que eles exageraram afinal, o apocalipse ainda não deu as caras por aqui. Poderíamos! Mas acontece que nós só estamos sobre a terra há pouco tempo em relação à sua idade e, portanto, não tivemos ainda oportunidade de testemunhar (e espero que continuemos) as grandes mudanças que já ocorreram em sua crosta. Evidentemente que me reporto ao acontecido recentemente no Japão. A parte “imprevisível” desse acontecimento é o vazamento de radioatividade. Mais uma vez tenho a impressão de que nenhuma estória o fez da forma como está acontecendo. Mesmo no caso de Chernobyl, a frase “a vida imita a arte”, na verdade, pode ter mais sentido se for transformada em “a arte não consegue imitar a vida”.

Nos filmes de ficção, aonde o tempo vai além das dezenas, centenas, milhares de anos para contar suas estórias, muitas das vezes percebemos monitores de naves espaciais à base de cinescópio, (vide o excelente “Aliens, O oitavo passageiro”), armas que dão tiros com balas tradicionais, objetos, trajes e pensamentos impregnados do presente. E ainda há quem os ache ousados demais.

Em qualquer seguimento em que se possa pensar uma estória, a liberdade de pensamento, a criatividade e a capacidade de ousar, por mais que se aventure “a onde o homem jamais esteve”, tende a patinar sobre o acaso nas esquinas da história que nos conta a vida.