NÃO SENTIRÃO ESTE TIPO DE ORGULHO DE MIM
Leio no Jornal Mensal da Alcadía Mayor de Bogotá (marzo/2011) um texto de Héctor Abad “La cocina de mi casa: Los hombres em La cocina huelen a rila de gallinas”. Descreve sobre o livro que sua mãe, exímia cozinheira, acaba de publicar: “Recetas de mis amigas ” e um que ele também acabou de lançar, intitulado “Tratado de culinaria para mujeres tristes”. Duas coisas me colocaram a pensar: meus filhos nunca se orgulharão da mãe sendo cozinheira. Quando acertava uma receita, errava em umas três; poderia até publicar um livro contendo receitas de amigas, pois junto-as desde meus quinze anos e, também, conseguidas de pessoas conhecidas. Minha mania por receitas culinárias já foi tão grande que chegava a ligar para pessoas de outros estados que havia conhecido em hotéis, para adquirir uma ou outra diferente. Em cozinha de hotel já fui parar algumas vezes e conversas com cozinheiro, garçons e outros me levaram ao prazer de obter algumas receitas desejadas. Ir para a cozinha praticar o que conseguia, nem sonhar, mas sabia oferecer para as amigas, fazer trocas. Uma amiga e colega de trabalho uma vez me pediu uma receita diferente de camarão. Forneci e ela ia receber sua família que estava chegando de viagem; falou-me que foram inúmeros elogios e veio agradecer. Só fiz dizer que ela havia testado. Só deu em risos.
Voltando ao escritor Héctor. Ele fala de sua infância e o que acontecia quando sua mãe dava aulas de culinária para conhecidas. Ele lucrava por poder degustar dos salgados e doces que resultavam dos ensinamentos, revelando que tinha preferência pelos doces, o que é normalíssimo. Seu gosto por culinária está revelado no que vivenciou com sua mãe. Demonstra seu orgulho em ter uma mãe que domina com maestria a arte de cozinhar. Só não entendi porque ele escreveu para mulheres tristes. Cozinhar é festa. Quem gosta sente o prazer em fazer e apresentar aos outros para ter aprovação, não caberiam tristezas; ou as alunas de sua mãe iam ocupar o tempo aprendendo a cozinhar como uma forma ou de manter o marido no casamento,que não deveria ir bem, ou conseguir algum “prendendo-o pela boca”, ou para fazer do encontro uma forma de desabafo, por ter insatisfações na vida. Só lendo o livro para saber as causas que ele aponta. Héctor falando orgulhoso de sua mãe na cozinha e de mim, com certeza, sei que nesse aspecto, meus filhos nunca vão sentir.
Na minha vida de menina adorava ir à cozinha lamber o tacho em que era feito o bolo e ainda pedia a colher de pau melada com as sobras da massa. Não havia delícia melhor e esta prática incuti nos meus filhos. Espero que se lembrem desta experiência, talvez única, em que a mãe deles fazia bolo nos finais de semana e para não gerar briga entre os três, dois dividiam o tacho e um outro ficava com a colher. Héctor falando orgulhoso de sua mãe na cozinha e, de mim, com certeza, meus filhos, nesse aspecto, nunca vão expressar esse sentimento.