O observador
Eles se amam.
É engraçado e bonito; eles se amam.
Fingem que não. Ela diz que o odeia, e ele diz que já a esqueceu.
Ela sorri para ele, e ele faz músicas para ela.
Ela tenta seguir em frente, e ele diz que já seguiu.
Mas se olham no fundo dos olhos, lógico, quando não tem ninguém olhando, esquecem do momento e o tempo pára. Ele olha para ela e ela vê os olhos castanhos dele. Ele cochicha algo nos ouvidos dela e dá um beijo na sua testa.
Beijo na testa é o "eu te amo".
Ela jura que não significa isso, mas uma vez ele disse isso a ela, e isso não era coincidência.
Beijo na testa é o sentimento que está guardado, aquelas palavras que nenhum dos dois ousa usar.
Ambos têm medo. Eles têm medo de sofrer.
Eles dizem que não, na realidade eles gritam NÃO! Colocam força! Mas eu não sei o que me acontece; fiquei surdo e de repente só presto atenção nas ações. A ação mostra aquilo que o lábio não diz. É o brilho do olhar. São as cantigas mais belas que são cantadas quando se toca o coração com as palavras. É ele querer fazer as vontades dela, e ela apesar de odiar, amá-lo pelo simples fato dele ter feito. É a cada olhar, um perceber que estaria bem melhor com o outro.
Ambos têm medo.
Eles gritam "EU TE ODEIO", mas até no silêncio eu escuto "EU TE AMO". E inclusive, acho que é amor demais.
É tanto amor que eles se afastam. Eles não querem ouvir mais nenhuma vez "nossa, vocês dois dão certo". É tanto amor.
Eles são diferentes, mas são tão iguais!
Eles têm medo de perder um ao outro, mas não percebem que o medo de amar vai fazê-los perder mais.
Eles seriam muito bons juntos, igual foram outrora.
Como pode duas pessoas que se amam não estar juntas?
Vou cuidar da minha vida, afinal, sou um mero observador.
P.S.: Engraçado que existem dois dias no ano em que ambos abrem uma exceção. É um desperdício nos outros 363 dias, já que eles estão ocupados demais tentando fazer ciúmes um no outro. Mas uma coisa é certa: Eles se amam.