O SORRISO

Ela sorriu pra mim, assim do nada, primaveril, doce e aconchegante, me senti diante de uma lareira acesa em um dia de frio. Eu retribui o sorriso, sem-graça, meio amarelo, tímido. Ela olhou com aqueles olhos penetrantes, como se estivessse perguntando "Só isso?", e depois virou as costas, e se foi a passos leves, sem pressa, como se estivesse me convidando a acompanhá-la, ou será que não? Por quê sempre me pergunto antes de agir? Talvez ela esteja mesmo querendo a minha companhia, mesmo depois do meu sorriso amarelo. Apressei-me, emparelhei-me com ela, nem que seja para sentir o seu perfume suave. Caminhamos juntos, silêncio desconfortável, só quebrado pelo seu arfejar contínuo e pela brisa do mar. Cadê a coragem para puxar assunto na hora em que mais precisamos dela? Novamente ela olhou pra mim, e sorriu, o que mais eu poderia querer? Se eu morresse hoje, morreria feliz, teria o sorriso de um anjo, o perfume de uma flor e o silêncio daquela que só precisa existir para me deixar sem palavras.