PODER FEMININO
Certa vez uma amiga me disse:
-- Beleza não vai à mesa, mas eu não como no chão.
O comentário dessa amiga – uma bela amiga, diga-se de passagem – é um exemplo de quanto o ser humano cultua a beleza. O poeta Vinicius de Moraes em Receita de Mulher escreveu: “As muito feias que me perdoem, mas beleza é fundamental...”.
Falando em beleza, há tempos não se via uma cerimônia política tão “bonita” como foi a posse da presidente Dilma. A cerimônia corria na mais perfeita normalidade, seguindo todos os protocolos até aparecer a figura vice-primeira dama Marcela Temer. E que figura! Com pose de deusa romana, ainda assim discreta, roubou a cena. Mesmo às vezes deslocada em meio à urubuzada, não perdeu a pose e virou musa instantânea da mídia. A trança loira sobre o ombro à mostra virou moda nos salões de beleza, todo mundo queria saber quem era a bela loira que (ironia do destino) vai ocupar o Palácio do Jaburu. Acredito que depois dela irão mudar o nome do palácio.
Mas voltando ao assunto da bonita cerimônia de posse, é claro que foi importante, e até emocionante, mas... não adiantava, volta e meia lá estava a câmera focalizando a esposa do vice-presidente. É compreensível pois os câmeras-man são na maioria homens e a presença de uma mulher bonita como ela atrai os olhares masculinos como lâmpada para mariposas.
A beleza, principalmente a feminina, é imprescindível em nossa sociedade. É só prestar atenção na tv, só tem mulher bonita. Elas estão em todos os programas, agora até nas mesas redondas de futebol. Nos realitys shows, se houver mulher feia é logo eliminada. Nas lojas, postos de gasolina, restaurantes e baladas as mulheres bonitas estão em todos os cargos. É a ditadura da beleza, e nós adoramos, e consumimos.
Outro dia eu estava tomando uma cerveja com um amigo num bar e entre os assuntos discutíamos sobre a beleza feminina. Ele defendia a idéia de que não existe mulher feia e que a beleza é um padrão imposto pela indústria da moda, e eu lhe perguntei:
-- E quem estabeleceu o padrão da feiúra?
...
O escritor Mario Prata respondeu esta questão em outra crônica:
“--É que a beleza é óbvia, cara. Já a feiúra surpreende. Não existe um padrão de feiúra. Como a coisa é por padrão, todas as mulheres bonitas são iguais.”
Enfim, que haja um padrão de beleza para as mulheres desde que elas continuem bonitas, e que existam as feias para que haja comparação (se todas fossem bonitas perderia a graça, igual praia de nudismo), e que, a exemplo da tv e do cinema, a política seja invadida por mulheres (bonitas de preferência) já que os políticos provaram que só são bons em uma coisa: casar com mulher bonita.
E que Marcela Temer seja a nossa próxima presidenta.