Caiu a internet

A coisa mais ridícula que existe no mundo da internet é esta inversão de valores. Costuma falhar e ainda comentar a falta dizendo ao cliente que está acontecendo algo como “a página não pode ser exibida, expirou, etc.” repassando o problema num nível desconhecido de possibilidades de entendimento prático. Esse imenso tempo perdido de acesso deve ser contabilizado como astronômica perda de tempo.

As pessoas ficam paralisadas diante da mensagem. A maioria delas utiliza uma expressão débil: caiu a internet. Um exercício de paciência e submissão. Fico pensando se em Nova Iorque ou no Japão funciona assim também. O que temos tem variações de qualidade tão evidente que deveria ser gratuito, tudo sem mensalidade. O que temos é o tempo perdido que não soa como desconto da mensalidade.

Resta o deslumbramento, o famoso deslumbramento intelectual que anteviu muito pouco o desmantelamento de todas as áreas: impacto no livro, impacto no cinema, impacto na música. Tudo caiu dentro da vaidade ilustrada – o serviço como uma vitrine de arrecadação para um número reduzido de usuários. Quando não vai para lugar nenhum a página é cínica. “Você pode tentar diagnosticar problemas de conexão”. Verdadeiro inferno de incompletude.

Temos a impressão paranóica de que estamos sendo explorados por alguém, um obscuro agente de boicote, alguém que intercepta, sobretudo não desejando que nossas mensagens sigam em frente. Quando publico meus textos ninguém compreende o quanto precisa um homem ter nervos de aço para atingir o sucesso desta singela publicação. Principalmente no extremo sul do Brasil para o mundo. Este texto agora mesmo está me custando uma manhã inteira de esforços para entrar no ar. Exceto algum elogio tudo o mais é desconsiderado. O que fizemos é doar, sem receber. A idéia de que os planos para consumo mudam as configurações otimizando parte da complexidade me parece longe da mais completa veracidade.

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Tércio Ricardo Kneip
Enviado por Tércio Ricardo Kneip em 04/04/2011
Código do texto: T2889491
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