Desespero de um buraco!

      Lá ia eu dirigindo para o trabalho, e como cidadã responsável que sou, atenta ao trânsito. Eis que, de repente, lá na frente o vejo com a boca escancarada a gritar desesperado:

- Paaaaaaaaaaaare! 

Diminuí a velocidade, freei o carro, fui para a lateral e, num lugar permitido por lei, o estacionei e fui conversar com ele pra saber a razão de tamanho desespero.

- O que está acontecendo, buraco?

- O quê??? Então não sabe? Não lê jornais? Não assiste TV? Não ouve rádio?

- Claro que sim, mas e daí?

- Como “e daí”? Não vê a todo momento a imprensa protestando contra nós? Não vê a injustiça que estão cometendo? 

- Injustiça???

- É... injustiça... injustiça... muita injustiça! Injustiça contra nós que nada mais estamos fazendo que ajudar aos pobres mecânicos a ganhar o seu pão de cada dia.

- E que posso fazer por vocês, buraco?

- Peça que nos deixem em paz para que possamos, com dignidade, continuar fazendo nosso trabalho em prol da classe trabalhadora.

- Tá bom, acalme-se, direi a eles!

- Sabia que podia contar com você. Em nome dos milhares de buracos espalhados pela cidade, muito obrigado.

Fim
                          Irene Coimbra