VIVENDO EM TEMPO EMPRESTADO

BLOG LÍRIO URBANO,

Junho 1, 2010 por Deífico

Estou na janela do apartamento, não com a boca escancarada cheia de dentes esperando a morte chegar, mas vivendo em um tempo emprestado, com os pensamentos cheios de incertezas e, às vezes, cheios de esperanças direcionadas para o dia de amanhã.

Da janela, vivendo em tempo emprestado, observo detalhadamente o movimento da rua onde moro. No intervalo do vai e vem dos carros de passeio, de vez em quando um ônibus para nos pontos, pessoas descem enquanto outras sobem. Mesmo fato acontece com as pessoas que saem dos seus prédios para descerem a rua na direção da estação do metrô enquanto outras fazem o caminho oposto.

Às vezes passam carros que vendem gás com suas músicas chatas e irritantes aos nossos ouvidos; às vezes são os carros dos vendedores ambulantes, com suas caixas de som roucas e estridentes, que ferem os tímpanos de todos; às vezes os gritos da criançada brincando de bola ou empinando pipas; ou os bêbados do boteco da esquina.

Da janela, vivendo em tempo emprestado, vejo uma selva de prédio de todas as cores e, embora cheio de pessoas, olhando assim de longe são como uma cidade fantasma verticalizada, vazia e misteriosa. No entanto, quando a noite chega, ganham vida com suas luzes acesas, com seu brilho de estrelas, com suas tonalidades e formas diversas.

Da janela, vivendo em tempo emprestado, rememoro a época em que eu era mais jovem, vivendo muitas confusões e disparidades, cheio de ilusões de liberdade e poder, ideais e sonhos quebrados, onde as coisas não eram tão claras, mas tudo era mais simples, vivendo sem pensar no amanhã.

Da janela, vivendo em tempo emprestado, noto que estou mais velho hoje e, quanto mais vejo as coisas, menos sei para ter certeza. O futuro não sei se será tão brilhante, pois, o momento agora é medido pelas horas. Horas que vão passando sem esperar pelos atrasados. As complicações são mais claras. Em compensação os problemas são bem maiores e mais difíceis de solução.

Viver em tempo emprestado é viver no tempo que não é nosso e, quando o tempo não é nosso não podemos fazer a hora, apenas esperar acontecer. Quem espera acontecer sem fazer a própria hora viverá constantemente na incerteza. Viverá em tempo emprestado.

É o que há

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