O jovem e indefeso Basílio
Basílio foi criado com muito afeto desde pequenino por Seu Epaminondas. Com o falecimento deste, seus filhos ficaram com a tarefa de continuar cuidando do jovem e indefeso Basílio.
Como nenhum deles tinha essa possibilidade se viram numa situação muito difícil e complicada.
Não que Basílio fosse mal, pelo contrário, sempre foi muito amado por toda a família.
Era meigo e dócil, porem necessitava de cuidados especiais, situação essa que nunca faltou enquanto Seu Epaminondas viveu.
Depois de muitas reflexões decidiu-se que Basílio, talvez pudesse ir morar na casa de Seu Belarmino, um velho amigo da família.
Assim que soube da situação seu Belarmino prontamente aceitou receber Basílio em sua casa e criá-lo com todo carinho.
E assim foi feito!
Numa linda manhã de sábado Basílio chegou a sua nova casa, tendo sido recebido com alegria por Seu Belarmino e sua esposa Dona Gertrudes.
Basílio já tinha um novo lar, porem nos primeiros dias era nítida a sua tristeza.
Sempre foi alegre, gostava de cantar e, no entanto, passava o dia todo jururu, parecia realmente desconsolado.
O tempo foi passando e graças aos bons tratos da nova família, superou a sofrida fase do luto e aos poucos seu desanimo foi desaparecendo.
Como todo bom sabiá que se preze Basílio passou novamente a exibir orgulhoso e com elegância sua linda plumagem.
Adorava tomar banho e tinha um apetite invejável, alimentando-se de ração, jiló, laranja, e tantas outras guloseimas que lhe eram servidas.
Quando lhe coçavam a cabeça ficava imobilizado com o prazer que aquilo proporcionava, a ponto de dormir.
Em função do espaço que tinha dentro da gaiola e aos diversos poleiros disponíveis, Basílio aproveitava para fazer os mais incríveis malabarismos.
Porem para que isso fosse possível, era necessário que Basílio tivesse de tempos em tempos suas unhas devidamente aparadas, pois, caso contrário o comprimento delas não lhe permitiam firmar-se no poleiro.
Este delicado trabalho era efetuado sempre por Seu Belarmino, que era um homem muito habilidoso.
Estas qualidades eram realmente necessárias, pois embora Basílio tivesse um porte grande, sua estrutura era frágil e delicada.
Foi então que um belo dia Seu Belarmino chegou em casa e viu Dona Gertrudes chorando inconsolável com Basílio nas mãos.
Disse-lhe em desespero, que resolveu fazer as unhas de Basílio para aprender e ajudá-lo neste trabalho.
Para não machucá-lo disse que teve o maior cuidado ao segurá-lo entre os dedos. Fez o corte e passou a lixa tão lentamente a ponto do Basílio com o tempo ficar quietinho e dormir.
Só que ao abrir as mãos ficou preocupada com aquele sono tão profundo.
Com medo de estar acontecendo algo com o Basílio resolveu fazer uma respiração “boca a bico”, mas que ele continuava ali quietinho, já fazia uns dez minutos.
Seu Belarmino percebendo que o belo sabiá ali jazia e que Dona Gertrudes em lágrimas vertia, resolveu com sabedoria e carinho socorrer quem ainda podia.
Dona Gertrudes nasceu e foi criada na roça. Ainda menina trabalhou na lavoura, na árdua tarefa do corte de cana, e mesmo depois de tantos anos ainda conservava aquelas pesadas mãos que o trabalho um dia lhe requereu.
Seu Belarmino entendeu o seu coração aflito e ficou ali por um longo tempo ao seu lado, sem censura, sem críticas, apenas com o calor da compreensão e do acolhimento.
Sabia apesar dos pesares, o quanto as mãos fortes e firmes de sua esposa, fizeram a diferença no decorrer de suas vidas e na criação sublime e amorosa dos filhos.
Assim os dias se passaram e Basílio, quem sabe hoje ao lado de Seu Epaminondas, sorriam felizes por cumprirem a missão de terem feito pessoas felizes deste lado.