Só pra dizer que cansei
Só pra dizer que cansei.
Cansei de querer entender e não ser entendido, de assumir papéis por papéis: filho, cunhado, primo, neto, vizinho, irmão... De sempre ser tolerante, respeitar, não dar vexame, nem ao menos inventar de fazer vergonha ou ser vergonha para qualquer pessoa.
Assim não dá, não posso viver dessa maneira, a maneira que os outros querem que eu viva: moldado, esculpido, emoldurado. Quem foi que disse que preciso agradar para ser aceito, compreendido ou mesmo tolerado? Que não posso ser eu porque choco, desarrumo, acanalho?
Ninguém tem a obrigação de me ter entalado ou atravessado na garganta, não, nem mesmo tem qualquer obrigação de enxugar as lágrimas, emprestar o ombro, me dar colo, colar em mim por pena, piedade ou gratidão mesquinha, fugaz, torpe.
A partir de hoje sou apenas eu e pronto, eu do meu jeito, ao meu estilo. Respirando, mirando alvos e atirando e quem não for apara bala que saia da frente ou em enfrente claramente como a minha mente possibilita a mim esse combate.
Se não pode dizer claramente o que sente, asfixie então a vontade de dizer e não diga nem por palavras, gestos, expressões ou atitudes. Não tenho tempo para ficar sentado na parada do destino assistindo ao belo espetáculo de encenação do texto que não foi escrito por mim, não, a minha necessidade é a de ser protagonista da minha própria história e se isso te incomoda, eu só lamento, mas não posso fazer nada, nada...
Cansei de ordens desagradáveis e de situações infantis de não aceitação e negação de mim mesmo. Seja extremista. Ame a mim ou me odeie por toda sua vida. Triture seu ódio, mastigue-o bem e depois tenha uma boa digestão. A escolha do cardápio é sua, que assim seja.
Antes de perceber em mim a distância da vontade de realização e o sofrimento do devia ter feito e não fui corajoso o suficiente para realizar, preciso abrir todas as portas e janelas ainda fechadas em minha vida e não somente fazer de contar, mas multiplicar bem cada lágrima derramada pela enorme centelha de esperança e felicidade que há em mim a cada momento que saio do casulo e nasço borboleta para minha própria existência...
As palavras parecem duras, soam como se fossem enormes blocos de concreto, embora concreto nesse momento seja somente o desejo do desabafo, do choro desentalado ou da materialização de coisas que já premeiam minhas frustações há tempo.
Estou cansado de me reinventar a cada momento e não vivenciar a plenitude do meu desejo de Eros. Que o erótico, o protótipo do belo e o repúdio de toda falta de tolerância que me desenha diferente, anormal, marginal de mim mesmo. Cansado de orelhas em lugar de vida plena por ter me encontrado na vida e na vida sentir quando a brisa é leve faz bem.
Só pra dizer que estou cansado de todo esse marasmo de você não ser feliz e me impedir de ser feliz... Faz favor então, me esquece, me deixa e não perde tempo comigo. Se ama, faz cama e dengo em ti... Se olha, morde a ponta da língua, mas não engole, nem dê o goto. O gosto do seu veneno nem pode ser bom e já pensou o depois? Ao invés de dormir o sono dos justos, passar a cuspir tudo aquilo que não conseguiu engolir... Prefiro nem comentar.