Primeiro de abril

Dia primeiro. Primeiro de abril. Dizem ser o dia da mentira, mas ele (ariano teimoso de nascença) resolveu continuar sua caminhada sem dar bola pra torcida. Já tinha tentado de tudo: ser ator, bailarino, cantor, modelo etc. Como nada tinha vingado, começou a perder a credibilidade da família e dos amigos. Quando , naquele dia, cuja data tinha uma conotação infeliz, lançou a ideia de que seria escritor, todos começaram a rir, outros a debochar ironicamente, uns poucos a ironizar silenciosamente, só através de olhares. Mas ele foi firme:

- Vão publicar meu primeiro livro!

- Tais brincando? - responderam os familiares em coro.

- É verdade. Existe uma nova editora no mercado, investindo em novos talentos.

- Novos talentos? Você? - continuaram os entes, não tão queridos, com sarcasmo.

- Inéditos, tá melhor pra vocês? - respondeu indagativamente ele com firmeza, mas sem querer gastar muita energia com os incrédulos.

- A gente só vai acreditar com o livrinho pronto: ao vivo e em cores! (RISOS)

- Então, vão se decepcionar, pois o livro é em preto e branco.

- Tá vendo, sabia que era mentira. Que história é essa de livro em preto e branco? Coisa de mentiroso. Você continua mentindo. Queremos volumes, conteúdos, obras.

Como viu que realmente não valia a pena gastar latim com aqueles que nem ao menos serviam de incentivadores, quanto mais de leitores e compradores de seus livros, deixou estar. O tempo e a verdade diriam se o seu anúncio era verdade ou não. Deixou a galera descrente pra lá e foi seguindo o seu rumo de escrever, contatar editor, trabalhar e sonhar.

Passados nove meses, ele chega ao lar dos incrédulos com o resultado do seu investimento: convites para o lançamento do seu primeiro livro 'Primeiro de abril (trajetória de um sonhador)', o preto no branco pra desforra dele, o novo talento, ou melhor, um inédito no mercado. Se ele pudesse filmar a cara dos então críticos sem carteirinha, componentes da família do deixa disso, mas incentivo que é bom ó... seria o máximo. Infelizmente não contava com uma filmadora, mas a sua memória visual pôde gravar bem detalhadamente o olhar de cada um dos detonadores sem causa que se transfigurou do descrédito, passou pelo espanto e chegou à surpresa. Não precisava de filme, estava vingado. A partir de então, jamais desacreditariam nele, mas isso pouco lhe importava, pois era um homem de palavras, não de mentiras. Para arrematar lhes disse:

- Taí o convite. Antes tarde do que nunca. Aguardo-os na noite de lançamento. Querendo autógrafos, é só chegar. Não é um 'pega na mentira', não tô nessa. Venham pra leitura, que é legal à beça!

Disse isso e deixou-os lá boquiabertos; voltou de novo (sem dar bola pra torcida) pra sua caminhada de trabalhar, criar, sonhar, autografar ...

Luiz Líbano
Enviado por Luiz Líbano em 02/04/2011
Reeditado em 03/05/2011
Código do texto: T2886181