Um café com leite e um cigarro
Discussões entre Mariana Rufato (Marimar) e Bianca Moreno .
Parte I: Idéias abstratas
B: As idéias não correspondem aos fatos quando são forçadas, por isso são apenas ideias, abstratas, nada real. Ah, coisa de poeta quando falta a inspiração. Não é maldade, mas técnica. No fundo eles têm um coração, mas quando amam não falam, vivem.
M: O escritor enlouqueceu. E agora?
O escritor está sã. E agora?
O escritor quer ser neutro. E agora?
O escritor não tem mais inspiração. E agora?
O escritor continua sendo escritor...
E agora?
B: Não, o escritor se recuperou. Ele não conseguia escrever porque estava preso ao nada. Agora, suas ideias correspondem aos fatos, ele está livre!
M: Preciso ser livre: andar descalço quando bem entender; sorrir quando bem entender; escrever minha própria história quando bem entender; sentir amor quando bem entender... então, é essa tal de liberdade que estava falando...
Parte II: O sistema
M: O sistema está todo errado. Apenas.
B: Mas a graça é estar errado, todo mundo saber e ninguém mudar. Nunca mudarão, porque estando errado, está certo para todos.
M: Todos = a massa ignorante. Quem pensa quer ag(ir) além, sempre.
B: Mas não agem, logo, comodistas.
M: Claro que agem. Só tem um problema: como mostrar ações que vão mudar uma sociedade como um todo? Já que está tudo moldado.
B: Não tem que mudar o que está moldado.
M: Claro que tem, ainda mais quando existem erros absurdos sendo vistos por quem vai além.
B: Nunca será.
Parte III: “Te amo”
B: Te amo não é: E aí, beleza?
M: Por isso não existe mais amor: as pessoas querem facilidade, apenas. Com isso, todo e qualquer tipo de sentimento fica banalizado.
B: É, virou costume. Assim como a "saudade" virou: "vamos marcar algo", onde ambos sabem que não se encontrarão.
M: E continuarão marcando vários algos ao longo da vida, sem perceberem que a saudade sumiu, ou seja, ela não existe mais. Na verdade nada existe se for dessa maneira globalizada de se "fazer sentimentos".
B: Esse "vamos marcar algo" é apenas um meio de não dizer: "ah, você já passou pela minha vida, cai fora". Ou seja, uma tentativa de prolongar o que já teve o seu fim. Uma insistência desnecessária, porque o ser humano é carente e não pode se ver só. Mesmo que a companhia seja ilusória. O que não pode, é ser efêmera. Mas é. Logo, a solução está em fingir que não é.
M: Muitos fingem não ser afim de ser algo que nunca serão. E, mesmo com a plena consciência disso, continuam errando, errando, errando ...
B: Porque errar é humano.
M: Mas saber que está errando sempre é ignorância
B: Não, é comodismo.
M: E ignorância , também.
B: Não, comodismo. Porque ignorar é não saber. s. f. 1. Estado de quem ignora. 2. Falta de ciência ou de saber. 3. Incompetência.
M: Ignorar é saber que está errando e continuar fazendo a mesma coisa. Eles sabem, mas ignoram, sendo incompetentes e comodistas,é claro.
B: Só se você estiver usando a ignorância como Estado de quem ignora, ou seja, propositalmente. Logo, não é ignorância no sentido de Falta de ciência ou saber, uma vez que é consciente. Então, é COMODISMO!
M: Quem ignora sabe o que está fazendo,certo? Logo o ser sabe, mas esconde (dentro do consciente mais profundo) o saber real, porque tem medo de mostrar sua alma na totalidade . Isso faz dele um ser ignorante, que não assume seus próprios erros, tornando-se cômodo, também. Tudo está interligado, são conexões profundas de saber (não saber). O homem moderno nasceu dessas reflexões de estados de espíritos.
B: É o que estou dizendo. É comodismo e ignorância nesse sentido. Mas, só é ignorância porque é comodismo, senão seria burrice. Capiche? Ambas estamos certas!