Vida saudável em trinta minutos

Como todos os dias, acordo às cinco e meia da manhã, tenho trinta minutos para usar o banheiro, tomar banho, escovar os dentes e tomar café. Desço correndo as escadas do prédio, pois não há tempo para esperar o elevador. Aperto o controle do portão antes mesmo de me aproximar dele, saio da garagem já na segunda macha, o tempo nesta parte da manhã é extremamente rápido. Na verdade entro no trabalho às oito horas, mas não posso perder tempo com banho nem café demorados, tenho que guardar o tempo para o trânsito. Para sair do entorno da minha rua e pegar a avenida principal uso preciosos vinte minutos, o que poderia ser feito em outra parte do dia em cinco. Da avenida principal do meu bairro, Sto. Amaro, até a Av.Vinte e três de maio, lá se vão mais trinta minutos. Num feriado, dez minutos daria com folga! Mas tudo ok, se na Vinte e três não tiver nenhum motoqueiro sendo socorrido no meio da avenida, em quarenta minutos chego ao trabalho, no HSPM, com trinta minutos de folga para tomar mais um cafezinho e iniciar o serviço. Bom, mas ganhar estes preciosos trinta minutos é como acertar na loteria. Esqueci de falar, sou médico. Quando finalmente entro para atender meu primeiro paciente, a minha paciência ficou toda na Vinte e três de maio. São ossos do ofício! Entre um cafezinho e outro atendo em média vinte e cinco pessoas até as catorze horas.

Novamente me vejo com exatos trintas minutos para ir até o banheiro lavar o rosto, correr até o refeitório para almoçar e descer para o estacionamento, pegar o carro, isso se não precisar procurar o dono do carro que estacionou na minha frente, sair praticamente voando para meu segundo trabalho para complementar renda no Sta Marcelina, onde tenho plantão das dezesseis até as vinte e três horas. Bom, não preciso nem falar das condições de trabalho, a esta altura já nem sei mais onde perdi a tal paciência. Entre cafezinhos, berros e desaforos de usuários descontentes com o serviço público, encerro meu plantão. O caminho de volta é longo. Quando não tenho que passar em nenhuma delegacia para fazer B.O por assalto em algum farol, chego em casa com tempo de trinta minutos para tomar banho, jantar e dar uma relaxada no sofá antes de ir para a cama e encontrar a mulher acordada só para perguntar como foi o meu dia e eu responder: "normal"! Confesso que não sei o que é pior.

Olha, sei que não justifica, mas tente me perdoar quando esqueço uma tesourinha no abdome de alguém!

Socorro! Pare este mundo que eu quero descer!