DESLIGA VOCÊ, AMOR!!

Durante nossas adolescências, quase todos nós vivemos as experiências de sentirmos o coração bater aceleradamente, enquanto os órgãos dos sentidos ficavam “abestalhados”, quando vislumbrávamos as pessoas que habitavam, dia e noite, em nossos pensamentos.

Lembro-me dos meus primeiros “amores” e sobre eles falarei, omitindo seus nomes em respeito às nossas famílias. O primeiro tinha um lindo par de olhos azuis, e eu os descobri em 1968, em meio a uma dúzia de outros castanhos. Eram rapazinhos que víamos das janelas das salas de aula, do bloco dos fundos da Escola Emir de Macedo Gomes, no horário do recreio do turno matutino. Eles se postavam sobre suas bicicletas (o meu “príncipe” ia de caminhonete) e ficavam paquerando as meninas do ginásio.

Um simples cruzar de olhares me deixava entorpecida. Não consigo me lembrar de uma única palavra que tenhamos trocado durante os flertes, mas me recordo perfeitamente do dia em que, corajosamente, eu disse à minha mãe: “Estou gostando de um rapaz!” Estupefata, ela me perguntou se o rapaz tinha nome. Informei-o com a voz bem empostada e ela me determinou: “Diga ao Sr. “fulano de tal” que venha à nossa casa!”. E não é que ele foi? Passou a frequentar nossa sala todas as noites e “namorávamos” até as 22horas, jogando damas com minha mãe e meu pai. A paixão foi esfriando, fui desgostando do seu jeito, de sua boca salivante e quis terminar antes de um mês.

Minha mãe, que ainda não me desculpara pela petulância de ter começado a “namorar” aos 13 anos, dizia-me: “Foi “peituda” para começar, agora aguenta!”. A coisa passou a ser um suplício e antes que completássemos dois meses de jogos de damas sempre vencidos por ele, eu consegui dizer: “Vamos terminar!” E tudo acabou sem beijo, sem cheiro e sem queijo.

Fui voltar a “amar” aos 16 anos. “Apaixonei-me” por um “ordinário” que era desejado por 09 entre 10 meninas linharenses, simplesmente porque andava na camionete do pai e estudava na Escola Técnica em Vitória. Que idiotice, não é mesmo? Esse me fez sofrer pra burro, porque namorava umas 04 ao mesmo tempo, mas eu superei e só voltei a gostar de alguém por volta dos 18 anos.

Depois disso, eu decidi como Roberto Carlos cantava em duas músicas da época: “Daqui para frente, tudo vai ser diferente!” e “ Eu só vou gostar de quem gostar de mim!”. Enquanto o homem que se tornou meu marido e pai de meus filhos não apareceu na minha vida, eu paquerei muuuuuiiiito, em relações afetivas bem descartáveis. Não sofri, não fiz ninguém sofrer... Tudo certo!

Lembrei-me de tudo isso quando uma colega de trabalho me relatou que a sua conta de telefone do mês retrasado chegara a casa com 07 páginas e o valor era inacreditável: R$3.996,00. Ela endoidara ao perceber que os números de origem das ligações feitas eram os dos celulares de seu casal de filhos adolescentes: Lavínia, 14 anos e Leandro, 16. A primeira havia gasto R$523,00 ligando para as amigas. Ele gastara R$ 3.473,00 com telefonemas para o seu primeiro amor. Entre essas ligações, havia uma iniciada à meia noite do dia 20 e terminada às 5 horas manhã do dia seguinte. A gente imagina que nesta madrugada o diálogo entre Leandro e a mocinha deve ter sido: “Desliga você primeiro, amor!” ao que o outro provavelmente respondia: “Não. Não tenho coragem. Desliga você.”... No mês seguinte, chegou o resíduo dessa conta, mais R$523,00, totalizando R$4.519,00

Após muito esculacho, a situação foi resolvida da seguinte forma: raspando o dinheirinho das cadernetas de poupança dos dois, trocando os celulares por dois pré-pagos, determinando que Lavínia seja a “diarista” da casa até completar os R$523,00 que gastara com as ligações às amigas, e exigindo que Leandro, que hoje trabalha como estagiário e ganha R$300,00 por mês, entregue a metade do seu salário ao pai, todo mês, até o natal de 2015, a fim de repor o dinheiro das poupanças.

Quem deduzir que Leandro desapaixonou depois dessa, engana-se. Soube que com os R$150,00 que lhe sobram, ele compra tudo de crédito para ligar para a namorada. Isso significa que até o natal de 2015, se ele não conseguir um bom emprego, vai viver durinho!!

NORMA ASTRÉA
Enviado por NORMA ASTRÉA em 01/04/2011
Reeditado em 12/12/2014
Código do texto: T2883888
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.