NO PASSADO, A INDÚSTRIA E O COMÉRCIO ESTAVAM AO NOSSO SERVIÇO, HOJE, SOMOS ESCRAVOS DESSES SEGUIMENTOS

Colatina, 01 de abril de 2011

Vivemos tempos de grandes incertezas, digo isso não só pelo pós-modernismo, em que alguns já dizem que não estamos mais. Gostaria de perguntar a estes em que período estamos então. Mas a incerteza que digo é por causa do caos em que o mundo está, não sabemos onde acontecerá a próxima catástrofe, estamos em um apocalipse iminente. Além disso, vivemos incertezas também bem com relação a todos os setores da sociedade: na política, na família, na economia (indústria e comércio), na religião etc.

Dessas, queremos priorizar a incerteza econômica. Observa-se que o regime capitalista do qual somos reféns nos impele a consumir bugigangas (Não fique nervoso comigo, no final me dará razão). Sim, bugigangas!! Já pararam para pensar quantos aparelhos eletrônicos são lançados a cada mês; quantas marcas de carros; quantas roupas; quantas marcas de calçados. E não pense que todas essas coisas são produzidas por um a caso. Não!! Vivemos na era da ciência, tudo é milimetricamente estudado para atender perfis exigentes, para adiantar as necessidades futuras dos clientes etc. Isso mesmo! Sabem do que vamos precisar antes de nós, e quem pode dizer que não é o próprio mercado que provoca tal necessidade? É algo desenfreado, é um produzir, um vender sem fim. E a mídia tem um papel preponderante nisso, porque compramos um aparelho de telefone celular numa semana, na outra, ela anuncia um melhor, mais moderno, e a maneira como é divulgado faz-nos sentir atrasados e inferiores. Isso porque fazemos parte de um grupo social, e se não nos adequarmos é como se fossemos excluídos daquele grupo. Assim, para sanar o sentimento negativo, somos obrigados a comprar o aparelho novo, e assim por diante: a roupa de marca, o carro, o tênis de marca, o televisor de plasma, a máquina digital etc. Somo todos os dias bombardeados por inúmeras propagandas das mais diversas. As empresas de marketing estão cada vez mais especializadas a fim de nos convencer a comprar um produto de marca. Por exemplo, usam muito uma técnica chamada “marketing psicológico”. Quem de nós nunca disse ao ir às compras: “Vou comprar Bombril; vou comprar um prestobarba; preciso de Omo; vou comprar um Nick; vou comprar uma Arno para lavrar minhas roupas”. Certamente todos nós estamos influenciados pelas mídias. Isso acontece de maneira muito simples, vão noticiando as propagandas na televisão ou em outras mídias despreocupadamente. No momento em que são recebidas pelos espectadores pode até ser que não o influencie, mas um dia quando estiverem diante de uma situação de necessidade, com certeza se lembrarão daquele produto. No caso dos anúncios televisivos, foram feitas, inclusive, experiências, nos anos 50 e 60, em laboratórios de psicologia e em cinemas abertos para provar que intensidade de luz em um ambiente pode ser determinante para que uma pessoa assimile algo melhor, e também compre ou não um produto. Outra técnica muito utilizada é a seguinte: o que vou dizer eu sei, porque faz parte dos meus estudos de análise do discurso, mas certamente você ainda não percebeu que acontece assim e nem por que. Grosso modo, quando você assiste uma propaganda televisiva, por exemplo, em que um apresentador famoso e simpático e, que, por conseguinte, você o considera, oferece um produto de beleza ou qualquer outro, a primeira coisa que nos vem à mente não é o tipo de discurso ou o tipo de gênero do discurso que está sendo oferecido a nós: discurso televisivo e gênero propaganda televisiva. Todavia, essa operação é inversa, ao recebermos o anúncio caímos em uma armadilha, porque o apresentador famoso se apresenta para nós não como alguém que está simplesmente nos oferecendo um produto para comprarmos, mas como um amigo conversando com o outro. Assim, não será muito difícil de sermos convencidos. Notaram? Essa é a imagem que temos quando assistimos tais anúncios.

Mas existe algo que precisa ser ainda considerado. Como fazer com que as pessoas comprem esses produtos. Poucos sabem ou pensam como gira nossa economia. As pessoas não têm dinheiro para comprar nada. Digo dinheiro em espécie. Grande parte das pessoas de nosso país são assalariadas. Então como compram? A resposta é simples: comprometendo seus salários. Os clientes parcelam nas lojas suas dívidas em dez, vinte e até trinta vezes. Um exemplo desse tipo de comércio são os estabelecimento bancários, que procura a todo o custo e independente de qualquer coisa comprometer o salário do trabalhador e, além do mais, fomentar as comprar a prazo em estabelecimento comerciais de outros segmentos. Posso dizer isso, pois trabalhei muito anos nessas empresas varejistas. Vi por diversas vezes pessoas que ganham um salário e meio entrarem nas agências e saírem com talão de cheques especial, cartão de crédito, seguro de vida etc. Quando chegam ao estabelecimento tem apenas uma conta salário, mas perguntam a ele:

- O Sr. só possui conta salário! O Sr. não tem ainda talão de cheques? Por que não transforma sua conta salário em conta corrente?

O pobre pessoa abordada nem sabia que podia ter um talão de cheques e fica todo contente.

- Eu posso ter?

- Sim. Posso liberar agora mesmo para o Sr.

- Sim. Eu quero sim.

Mas não para por aí... O funcionário do banco oferece mais...

- O Sr. quer que eu ponha um limite especial em sua conta. É muito bom e pode prevenir imprevistos. Suponhamos que o Sr. dê um cheque que exceda o valou que o Sr. tem na conta, como irá cobrir? O limite especial, Sr. tem esse papel especial.

O assalariado fica eufórico quando fica sabendo que pode ser um cliente especial. Ao receber o talão de cheques especial impresso e lê “especial” tem a sensação de que vai enfartar de tanto contentamento. A final é o momento mais feliz de sua vida, pois sente estar sendo incluído no mundo. Ao sair, mal consegue se virar para ir embora, e é novamente abordado pelos funcionários do cartão de crédito e do seguro. Perceberam como todos os funcionários dentro das agências bancários ficam como urubus em cima e envolta da carniça? Esse último de que falamos, o seguro, muitas vezes é vendido de forma casada, embutem no empréstimo, na oferta do cheque especial, até dois três e quatro apólices de seguros, a final a pessoa humilde nunca vai conferir mesmo! Tudo é oferecido no mesmo processo. O assalariado fica deslumbrado com tudo aquilo, porque agora é uma pessoa de nível social. Mas o tempo passa, e ele fica no vermelho, se torna refém do cheque especial, que, aliás, nem sabe como funciona, porque o banco não explica direito. Acho que existe uma finalidade nisso. Posteriormente, como o seu salário é para cobrir o cheque especial e ficar devendo ainda, pois os juros são altos, ele então se lembra: “Tenho o cartão de crédito, estou salvo”, ufa!!! Dessa forma, começa a usá-lo desenfreadamente também, uma armadilha que as pessoas carregam consigo. Muitos me dizem: “É só saber usar. Eu uso direitinho, com responsabilidade”. Me engana!! Todas as pessoas falam que são santas quando se trata disso, mas o cartão está ali, cedo ou tarde você terá algum problema financeiro e irá usá-lo, como no relato que estamos fazendo. Nesse sentido, o tal assalariado de quem estamos comentando terá problemas sérios com suas finanças. Quando chegar o final do mês, seu salário entrará na conta para cobrir o cheque especial (risadas), e não será suficiente, ou seja, ficará devendo ainda. E a fatura do cartão de crédito, como fará para pagar? Não fará nada. Não tem dinheiro. Para resolver essa situação, se tiver a informação de que pode procurar o gerente do banco para parcelar a dívida que tem será a solução mais viável. É irônico isso. Quando a pessoa procura o gerente e explica a situação, ele simplesmente diz:

- AAAAh!! Não se preocupe o Sr. tomou a decisão certa de me procurar. Não se preocupe. Tudo está resolvido. Qual o número de sua conta? Só um minuto. Achei. O Sr. estourou o cheque especial e está também com uma dívida no cartão de crédito que ultrapassa seu salário. Vou fazer o seguinte: “Juntarei as dívidas e parcelarei em vinte vezes, suaves prestações de “Xis”. O que o Sr. acha? A pessoa se sente aliviada, fica contente e agradece como se fosse um favor que o banco está prestando a ele. Na verdade todo acontecido já havia sido premeditado pela instituição por meio de estudos de mercado. Como a pessoa não tem outra alternativa melhor, aceita passivamente, pelo menos dará para comer. Ao contrário disso, muitos nessa situação, por falta de informação, procuram outras financeira e fazem empréstimos com juros muito superiores aos da instituição bancária a qual está devendo. É lastimável!! Pegar empréstimo para pagar empréstimo...

Tudo isso, nós mostramos com o intuito de dizer que no passado era bem diferente do que se vê hoje. As indústrias, no passado, foram criadas para nos servir com bens e produtos que eram vendidos pelos comércios varejistas. Nesse sentido, era produzido e vendido aquilo que precisávamos apenas. Hoje, o que vemos são quinquilharias e bugigangas, coisas inúteis, desnecessárias e que não acrescentam absolutamente nada á vida humana. E que além do mais, nos obrigam a comprar e a consumir desenfreadamente. Pensem! Para que trocar de telefone toda semana; por que todo o fim de semana comprar um par de tênis, uma roupa de marca, um relógio; para que escova elétrica, faca elétrica; por que dezenas de marcas de carros se todos têm os mesmo equipamentos, funcionando igualmente. Reflexos da vida pós-moderna. Gostamos, nos identificamos e consumimos esse produtos ainda que não tenhamos como pagá-los e, dessa forma, as situações se invertem, pois nos tornamos escravos da indústria e do comércio. Vivemos para servi-los agora, somos escravos do capital. Como fugir disso? Não há como fugir, mas é preciso deixar a alienação e viver uma vida mais consciente do momento, uma vida mais sábia. Não seja esperto seja sábio.

MENEZES, L. F.

LeandroFreitasMenezes
Enviado por LeandroFreitasMenezes em 01/04/2011
Reeditado em 04/09/2011
Código do texto: T2883783
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