1º- de abril - DESCOBRIMENTO
                            Gravura GATOS de Goeldi
 


Muitas vezes nos fazemos indagações que não sabemos e nem queremos respostas. Seriam perguntas tão definitivas que até nos observamos reais, procuramos um controle ou uma disciplina que nos ajude num isto, num aquilo, e vem no fim de tudo um beco sem saída. Incomoda um tanto não ter resposta. Recolhemo-nos em quietude, na investigação e tentamos um descobrimento. Com sorte conseguimos uma energia nova.

Depois de olhar, observar tudo e, mesmo o pensamento a funcionar ansioso querendo saber o não sabido, enfim, por mais que busquemos em todos os nossos cantos do saber, do sentir, do avaliar, quase nos damos por vencidos e até desistimos. E o pensamento volta a ficar ocupado com mil coisas.

Mas há mecanismos aleatórios que nos levam a caminhos impensáveis, imprevisíveis, e até insignificantes que são verdadeiros caminhos da despreocupação. Ou desvios da ocupação.

Dia desses estava nesta luta inconsciente de uma questão pessoal muito incômoda que me infelicitava e me levava a questionar.

(E vou colocar: 1-casei c/ comunhão total de bens. 2- divorciei c/ 23 anos de infelicidade. 3-virei uma divorciada e com o prazer da liberdade nem pensei em partilha formal de bens. 4- o tempo passa e o ex-marido vem a morrer. 5- o inventário rola por cinco anos, acumulando dívidas de condomínio e juros. 6-advogados e inventariante nada fazem. 7-~venho a saber que o imóvel vai a leilão em breve. 8-tento salvar o imóvel p/ venda e ser a partilha melhor p/ os herdeiros. 9- vão procrastinando e, finalmente me é dito que eu sou “uma ex-mulher” e a herança é só p/ os herdeiros diretos. 10 - além da frustração de não ter direito ao meu devido quinhão, fico muito “encucada” por ter sido MEU NOME=eu, executado, e agora estou ligada a uma “dívida ativa”. 11 – pensava de, com a minha parte, em comprar o apartamento que alugo).



Prisioneiros de questões, em impasses tais que o humor vai pro brejo. E chegamos a um ponto que muitas outras questões nos invadem, como que perdidos, com aquela sensação de estar perdendo a vida. Ficamos desmontados, caímos no vazio.

E tudo passa ou quase. Mas há uma transformação. O inconsciente ferido por “perdas” ou distraído com outros pensamentos conseqüentes, ou quaisquer coisas...

Desviada a atenção para um beija-flor descuidadamente preso dentro de casa, cabeceando pelo teto, sem encontrar a saída óbvia pelas janelas e portas logo abaixo, circunstância que deixamos à sua mercê. Afastamo-nos, pois podemos ser livres, o beija-flor que encontre sua solução.


Em verdade, ficamos por breves e preciosos momentos desocupados de pensamentos.
E quando não há pensamentos, um estado de pensamento vazio e nulo ocorre. Uma integridade de paz ou de liberdade de sermos apenas nós próprios, sem conotações, adquiridas ou desejadas, nem pai nem mãe, sem Deus, nem prescrições a serem seguidas, ocorre-nos um momento livre e vazio que não acaba mais, e é mais forte que tudo, ou qualquer instância, que não nós mesmos, somos o descobrimento de nós mesmos. Nasce uma energia nova. Uma preciosidade. Uma madureza recém nascida. O caminho à frente é novo e aberto.


Que foi que aconteceu? A nossa mente ficou não ocupada de pensamentos. Quando estamos sem pensamentos ocupando o espaço nosso precioso, e conseguimos ficar assim livre de pensamentos desnecessários, então é aí que uma energia nova nasce, vêem também sabedorias nascentes, compreensões, mistérios se revelam em sanidades e descobertas como a paz, a calma, a arte e mais coisas sublimes ou benéficas, inspirações, criação, imaginação.