MATEM A POESIA, O POETA OU A AMBOS

Eu diria que a poesia anda sufocada em meio a tantas outras manifestações literárias: ensaios, romances, contos, crônicas, biografias, auto-ajuda, etc. Argumentam alguns, com uma certa razão, que só lêem poesias os que gostam de poesia. Mas eu diria também que só lê romances quem gosta de romances, de aventuras. Da mesma forma, somente lê contos, quem gosta de estórias, de “causos”, etc. Já os ensaios e as crônicas carecem do leitor uma maior formação. Diria mais: só lê alguma coisa, qualquer coisa, quem gosta de ler e isso está ficando cada vez mais raro em um mundo tecnicista e imediatista. Não vale a leitura por obrigação. É preciso ter prazer na leitura. Quantos lêem regularmente a Bíblia Sagrada? Mas, voltando à poesia: o que se passa com ela? Até que em nossos arraiais tem havido uma boa produção do gênero. Não me parece tenha alcançado o número de leitores que seria o desejado. Dentro do contexto da arte de escrever, penso que a poesia é a arte de refazer a arte. A poesia requer o uso das mais diversas figuras de linguagem. Para alguns críticos necessita ela, ainda, de substantivação, do hermetismo, para que não seja reveladora mais do que deva ser. Além disso, precisa de uma temática que extrapole a sensibilidade individual para o coletivo, em palavras e sentidos não muito usuais. De fato, a poesia não deve ocupar o lugar comum. Muitas delas revelam-se infantis, imaturas. Algumas exacerbam nas figuras de linguagem e em palavras ortodoxas, tornando o poema chato e prepotente. Critica-se o intimismo, mas o poeta não tem como fugir dele mesmo. Não pode é esse intimismo inundar-se na pieguice. Costumo dizer que faço parte daquele grupo que diz que quando não gosta de determinada obra literária, não quer dizer necessariamente que não seja ela de boa qualidade. Quer dizer apenas que não gostei. A verdade é que a poesia é exigente. O fazer poético não é algo simples. Até mesmo a prosa não deve ser vista como algo que pode ser feita de qualquer modo. Não raro encontramos o esforço de alguns na tentativa de construir a poesia e o que se vê são versos banais, recheados de rimas repetitivas e previsíveis. O Mestre Drummond já dizia que “a poesia exige a melhor palavra ou o melhor silêncio”. Embora não seja ele o dono da verdade, há verdade em sua afirmação. Não é tarefa fácil dizer para alguns que me apresentam seus trabalhos e pedem a minha opinião, mesmo não sendo eu um crítico literário, que precisam ler mais, inspirar-se em outros autores, sem desestimulá-los. É preciso recuperar o leitor da poesia e isso só será alcançado com poesias de qualidade. E então: mata-se a poesia, o poeta, ou a ambos? O que não pode ser concebido é que o poeta seja o assassino da poesia ou dele mesmo. Enquanto existir no ser humano o desejo de expressar-se artisticamente, a poesia, certamente sobreviverá e ocupará o seu espaço.