Desventuras de um ladrão desastrado.
Os fatos aqui narrados aconteceram em um oficina mecânica e decorrem do que certa pessoa ouviu enquanto aguardava o conserto de seu veículo.
Quem contava as histórias era o protagonista das mesmas, um rapaz ainda jovem que reconhecia um grande defeito: não conseguia deixar de pegar para si algo que pertencia a outros, ou seja, de roubar.
Certo dia ele andava pela rua e deparou com um quintal onde havia vários coqueiros, repletos de cocos. Chamou um companheiro para ajudá-lo na empreitada. Adentraram o quintal e enquanto um subiu no coqueiro o outro ficou no chão recebendo os cocos que eram colocados ao lado do muro. Aí aconteceu o primeiro vacilo, pois o ladrão disse que deveriam ter colocado o produto do roubo do lado de fora do quintal. De repente eis que surge um homem, o proprietário, com uma espingarda na mão e pergunta:
– É seu?
O ladrão gagueja e responde que não.
O proprietário diz que eles tiveram sorte. Caso fosse o seu pai a pegarem os dois em flagrante atiraria. Entretanto, ele disse que nada faria, pois o tal coqueiro era o mais alto da propriedade e ninguém se habilitava a subir para retirar os cocos. Por essa razão os dois ladrões seriam poupados e, se quisessem, poderiam até levar alguns cocos, mas só se subissem em outro coqueiro. Nessa altura o ladrão que havia tido a ideia e que subira no coqueiro estava todo estropiado e resolveu ir embora com as mãos vazias.
Em outra ocasião, dessa vez na rua em que morava, ele viu um cachorrinho em uma casa. Ficou olhando o cachorrinho, que era bem pequeno, talvez um Pinscher. Ele fez amizade com o pequeno animal e conseguiu pegá-lo. Já no meio do caminho, com o cão nos braços, foi se afastando da casa. Imediatamente percebeu o erro. O cãozinho, antes dócil, ao ver que se afastava de sua casa começou a latir e a arranhar o ladrão. Nesse meio tempo apareceu o proprietário do cão e perguntou?
– É seu?
O ladrão respondeu que não e disse:
– Pensei que o cão não tivesse dono, pois estava na calçada.
Nisso o dono do cachorro já vinha observado os passos do ladrão. Felizmente o homem nada fez, apenas pediu o cão de volta. Alguns dias depois colocou em sua casa um Rottweiler e ladrão intuiu que ele desejava que o mesmo o atacasse.
A última aventura, ou melhor, desventura, narrada pelo ladrão, personagem principal dessa crônica, aconteceu em um galinheiro.
De passagem ele viu um galinheiro cheio de aves e ovos, muitos ovos. O olho do ladrão cresceu por sobre as galinhas e os ovos. Ele não contou tempo e invadiu o local. Pegou uma galinha e o ninho da mesma com os ovos. De repente começou a sentir uma coceira tremenda e viu uma nuvem de piolhos de galinha por sobre seu corpo. Desesperado largou tudo e saiu correndo.
Em casa foi socorrido pela avó, que queria saber a origem da praga de piolhos. Depois de tomar vários banhos e de ter o cabelo todo cortado, feito um anjinho, o ladrão disse que havia sido chamado por um homem para limpar seu galinheiro. Ainda segundo o ladrão, o homem não havia mencionado os piolhos.
Finalizando, o tal ladrão disse, a respeito do homem:
– É minha avó, o mundo anda cheio de pessoas desonestas.
Rita Venâncio.