VAI TOMAR NO CU, VIADO!
A melhor forma de ser igual a você mesmo é conseguir ser diferente dos outros!
Um fazendeiro de médio porte, formado em Letras, nem pobre, nem abastado demais, mas que se mantinha com o suficiente para ser feliz: uma propriedade rural, uma casa na capital para seus filhos moraram enquanto estudavam e uma poupança que lhe garantia o sustento... Chamava-se José, conhecido como Zeca Pega Bode, por andar sempre com as calças no meio da canela, chapéu de palha modesto, chinelos de couro e com um jeito sereno de ser... Certo dia foi em uma loja da capital na intenção de comprar uma TV de 54 polegadas, dizendo ele, que a bendita TV tinha um apelido que se chamava LCD, um liquidificador e uma geladeira que também tinha um apelido, uma tal de frost-free.
Ao chegar à loja, Zeca andava, andava e nenhum vendedor dava-lhe atenção, posto que os vendedores, apenas abordavam aquelas madames com cara de peruas ou homens bem aparentados de óculos escuros e gel no cabelo. Até que ele escuta o gerente dizer a um dos vendedores:
- Ei, filho, atenda àquele senhor ali.
O vendedor, sem dar bolas, retruca ao gerente:
-“ômi”, tenha fé, olha as roupas desse cara. Todo maltrapilha. Isso deve ser apenas mais um daqueles caipiras que só sabem dizer: não senhor, “tô” só dando uma olhadinha.
Zeca escuta, e de uma forma elegante, mas ao mesmo tempo com postura de bom homem do sertão, manda ver para cima do vendedor:
- Meu filho, quando me visto é para satisfazer o meu estilo, minha personalidade. Ser o meu modo de ser autêntico. Diferentemente de você, que deve ir nesse tal de shopping Center em todo fim de mês e gastar toda a merreca que ganha numa única “párea” de roupas, só pra impressionar esse povo véi besta que anda por aí sem TER porra nenhuma. Pior, sem SER porra nenhuma! A vontade de pessoas imbecis tal qual a sua pessoa, é de satisfazer a personalidade do senso comum. Se é que o senso comum tem personalidade. Comprar roupa de grife cara é uma forma de querer brilhar na luz dos olhos dos outros. Só que, a luz de quem realmente brilha, está muito além da escuridão do olhar alheio.
Enquanto isso, o gerente pedia para o senhor se acalmar, enquanto o vendedor já estava começando a baixar a cabeça. Não dizia mais um pio sequer.
E continuava a falar Zeca Pega Bode:
- A moda, meu filho, é só mais uma forma de padronização da idiotice humana. Tipo, é como se inconscientemente, o ELE que está em você a si mesmo dissesse: EU não aguento ser EU, devo ser igual a TU. Fazendo de NÓS e dizendo a VÓS que devemos ser iguais a ELES. Acho que é isso, meu filho, a moda só vem confirmar, de estação em estação, que a estupidez do homem em se exibir está cada vez mais doentia e cotidiana.
Zeca se cala e sai caminhando balançando a cabeça para os lados.
Se apegar às aparências é uma merda mesmo, não é? Quando Bukowski afirmou que “ter estilo é tudo”, ele quis mostrar que se tratava de estilo de ser, autenticidade e confirmação do seu próprio “EU”. Não é o fato de andar na grife e bem engomadinho que lhe fará uma pessoa honrada e com méritos. Lembre-se, o político ladrão, quando vai pedir o seu voto, ele se arruma na pinta e faz um bom penteado. E no dia a dia de trabalho, ele nos rouba usando terno e gravata! Tendeu?
Por fim, Vira-se de costas, o nobre fazendeiro, e, tranquilamente, saindo da loja, esquece a compra e o vendedor, falando com a cabeça erguida para o teto: “ó meus deus, porque é tão difícil à sociedade, conseguir aceitar as diferenças sem conseguir apontar que o diferente é aparentemente um erro, hein?
O teto, meu chapa, está muito longe dos céus... e como diz o ditado, lembre-se: o teu teto é de vidro!
Pensando em Zeca Pega Bode, pensei: Acho que esse, sim, é o erro da humanidade: aparentar que o aparente é a verdade. Quando, na real, muito antes da verdade, trava-se uma guerra feroz contra a ignorância.
“É o preconceito a mãe de toda estupidez humana”,
E assim, antes de atravessar a calçada da loja, o fazendeiro baixa a cabeça novamente, olha pra trás e solta:
- Ei, seu vendedor, vai tomar no cu, viado!