As Agruras de uma Sustentação Oral
As agruras de uma sustentação oral
Há alguns meses, realmente não muitos, falou-se por aqui em uma tal de sustentação oral. De primeiro, recorreu-se a um fonoaudiólogo, achando que aquilo era exercício bucal. Descoberta a acepção, escolheu-se, bem a dedo, a pobre da responsável. Ora, esta pessoa, após a tal da escolha, revirava – todos os dias – esse escritório de pernas para o ar. Convocava diversos dos colegas e desembocava a argumentar. Posicionava-os como se juízes fossem, de cronômetro em punho – pra não se perder no tempo – e rendia reverências. Era Excelência pra cá, Ilustríssimo pra lá. Mas nada de ficar satisfeita. Ora, estava nervosa, suando frio, perdendo noites de sono, brigando com Deus e o mundo. Na intimidade da amizade revelara que seu defeito era a oratória. Não podia ser perfeita, claro! Com um pouco de treino, e bastante sapiência, passou a dominar o assunto com tanto fundamento que até em mesa de bar podia discursar. Mas era só colocar as tais das Excelências, duma tal de turma recursal que o nervosismo aparecia, o cabelo se assanhava, o nariz coçava. Achava que nada dava certo. Era um ahan para cá – um não, uns catorze –, um lero lero para lá. E olhe, quando se falava no chefe então, ahhh, parecia que algo ia estourar. Ficava nervosa, receosa, desconcentrada, sem saber o que fazer. E o grande dia estava prestes a chegar. Ocorre que por infortúnio das intervenções metereológicas, chegado o tal do dia, o avião do outro advogado inventou de atrasar. Foi tanta intervenção que só faltou as vias de fato. Era um disse me disse pra cá, um disse que disse para lá, e o tal de um defunto querendo atrapalhar. Talvez por cautela, entendeu a magistrada pela mudança da tal da pauta. Eis que o grande dia acabara de ser adiado. Mas também, um dia grande como aquele não cabia num diazinho só. Parece que era encomenda. O tempo passou, o ano mudou, a mulher casou – não sei se bem nessa ordem. Não é o que o tal do processo teimou em retornar! Ora, inventou-se uma tal duma viagem amazônica, e, com esta, tentava-se escapar. Mas não deu certo. Eis que a tal da escolhida, novamente, começou seus ensaios. E lá vai o rebuliço. Pedia a Deus e todo mundo pra que fosse dar certo. Ensaiava, pensava, sonhava; e acordava – coitado do marido, que nem dormir podia. E o dia não chegava. Mas como diferente não podia ser, encontrou-se naquela manhã de 16 de fevereiro, defronte a tal da Turma. E olha, que antes dela havia falado o ômi de outro escritório, defendendo a parte contrária. A responsabilidade era muita, e o nervosismo era tanto que intimou seu patrão (o ômi do nosso escritório), que deixasse o salão. Antes de começar, garganta molhada, esperou a tal da beca, que o outro bacharel, de tão nervoso, parecia querer levar para casa. Creio que era na vã esperança de não ter com quem disputar. Rapaz, quando essa moça – uma loirinha, dos olhos claros, e jeito arretado – começou a falar, mais parecia que o mundo ia estourar. Era uma raiva, uma ira, uma cólera, que quem conhecia, desconhecia. Falava com tanto argumento, raciocínio e altercação, que mais parecia pintar a tal da cena. E olha, que teve uma doutora lá que franziu os “beiços” quando escutou o tal do crânio esfacelar. Usou até o último minuto, só pra não deixar de dizer que a tal da outra parte era uma tal de responsável pelo tal do serviço que prestava, não sei se por consórcio ou se por concessão! Mas eu sei que funcionou. A palavra, então, voltou-se à tal da relatora. Ômi, lá se vai essa mulher destilando um calhamaço de palavrório, e colocou, meio que um supositório, na tal da outra parte. O tal ômi, de tão pequeno, ficou menor que um menino. Ainda tentou em vão argumentar que a idade era de 65, mas a tal da relatora disse que viveria era até os 72. Eu não sei como é que esse povo sabe a idade que vai partir, mas o que eu sei é que aquela meninazinha, de cabelo loirinho, olho verdinho, vinda lá duma tal de Guaraciaba do Norte, deixou aqueles ômi – e aquelas outras mulê – tudo estampecado, com os queixo caído, no formato de pêra! (pêra acolá!!!). Olha, depois daquela tal de sustentação oral, por acolá só vai ter abaixação oral, pois sustentar daquele jeito, eu penso que não tem não.
(Fortaleza, 16 de fevereiro de 2011)