Fidelidade Tanto Faz De Quem

Por trás da Kombi estacionada Gilmar assistia tudo. Seus olhos marejados e sua pele já avermelhada de nervoso entregavam que estava prestes a chorar. Pessoas que passavam e o viam ali, ao lado do carro, quase chorando, logo viravam a cabeça para a direção qual ele olhavam, e constavam que se tratatava de talvez, um flagrante.

Sentados na escada de um belo edifício na Moraes e Silva na Tijuca, um rapaz e uma moça se beijavam apaixonadamente. Ele com as mãos na perna dela, ela com os lábios em seu pescoço. Eram dois jovens bonitos, e estavam bem vestidos. Gilmar sabia que trabalhavam juntos, mas não que se relacionavam ainda. Estava triste.

Lembrou-se de todos os momentos juntos. Aquele aperto no peito quando estamos prestes a terminar uma relação veio com tudo no peito do pobre rapaz. Engoliu a seco, queria chorar. Mas não ali no meio da rua. Tentou formar saliva em seus lábios para umidece-los, porém não conseguiu. Ao invés de insistir, preferiu se esconder um pouco mais e continuar olhando.

Pegou seu celular, pensou em ligar e qual seria a desculpa. Mas desistiu. Queria ver. Era algo sádico, mas queria assistir aquilo tudo para ter certeza de que não estava fantasiando. Era como assitir a um filme de terror. Sabemos que em certa cena terá sangue, sabemos que o monstro vai aparecer, e mesmo assim continuamos olhando. Gilmar queria olhar.

A menina, aproveitando o silêncio do prédio e a pouca movimentação da rua sentou-se no colo do rapaz e ele sorriu enquanto tentava examinar se alguém se aproximava. Continuaram se beijando, se abraçando.

O observador não aguentou. Pegou imediatamente seu celular dentro da bolsa e apertou o número 3, que automaticamente discaria o número desejado. Começou a chamar. Um toque… Dois toques… Três toques… Provavelmente estava no estado silencioso dentro da bolsa.

A vontade de invadir o prédio era imensa. Queria entrar lá, segurar os dois pelos braços e fazê-los sentirem vergonha pelo que estavam fazendo com ele. Como podia fazer aquilo com ele? Depois de três anos juntos, morando na mesma casa, dormindo na mesma cama. Após passarem por tudo que passaram para ficarem juntos.

Estava sem chão. Resolveu ir para casa e depois ver o que acontecia.

Alguns minutos depois estava em casa, deitado na cama chorando. Detestava chorar, ainda mais na frente de outras pessoas. Mas precisava deixar o orgulho de lado. Devia deixar sua tristeza sair para se sentir leve outra vez.

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No outro prédio, os dois continuavam se beijando até que ela parou.

-Preciso ir! Meu namorado já deve estar preocupado!- avisou beijando-o.

Ele sorriu.

-É… Tenho que ir também. Meu telefone já deve estar lotado de mensagens mal-educadas.

Ambos sorriram e se beijaram. Se beijaram, se beijaram outra vez. E se despediram. Prometendo se encontrarem mais uma vez.

•••••

Ao ouvir alguém mexendo na porta, Gimar logo se levantou e sentou-se na cama. Sua fisionomia mudara drásticamente de tristeza para raiva. Olhou por todo o quarto e viu que tinha derrubado todas as fotos quais os dois estavam juntos. Queria saber que desculpa ouviria daquela vez. Que história fantástica ouviria. Por que não atendera as ligações. Em que lugar ridículo teria esquecido eu celular dessa vez. Havia prometido que tinha mudado.

Foi então que a porta do quarto abriu. Gilmar gelou e araiva tomou seu corpo ainda mais. Seu rosto vermelho começara a brilhar com o suor que escorria de seu rosto furioso.

-Onde você estava?-perguntou antes mesmo que a pessoa entrasse.

Francisco parou e ali ficou. Estava surpreso.

-Eu estava na Tijuca fazendo trabalho de faculdade.

-Tem certeza?

-Tenho! Pode ligar pra Cátia,amor. Ela estava comigo.

-Eu sei que sim. Ela deve estar sempre contigo.

-Não estou entendendo…

-Eu que não. Mas pra mim chega. Já vi que você não mudou nada. E que nesses três anos eu devo ter sido muito feito de idiota. Meu Deus…Por que com mulheres?

Francisco viu que não tinha o que falar. Apenas se virou e foi embora. Estava confuso com tudo aquilo e até mesmo de porque se relacionava com mulheres. Apenas vinha na sua cabeça a frase que seu pai disse quando ele se assumiu homossexual: O ser Humano age de maneiras inexplicáveis…

FIM

Fael Velloso
Enviado por Fael Velloso em 30/03/2011
Código do texto: T2880605
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