Crônica de um Derrotado.

Talvez tirar os sapatos, a calça, a camisa, a armadura de lata de todo dia: caneta, relógio, cinto, e dizer ao mundo: sinto muito, muito por tudo isso!

Talvez é preciso tirar a cabeça e depositá-la num escombro, ou deitá-la sobre o ombro esquerdo e entoar um cântico indígena, daqueles com sinais de fumaça, que só Carlos Castaneda saberia compor, olhar o crepúsculo e se desanimar de tudo, se ver só num mundo sem graça, sem calça, sem lógica, sem praça, shopping ou qualquer tipo de loja, um mundo no alto de um desfiladeiro, prestes a se despedaçar... É lá que o melhor cântico, talvez, surgirá...

Ou mesmo rumar pra New Orleans, logo após um terremoto, cidade vazia e cheia de ratos, e entoar um blues solitário sob a soleira de uma casa desabando, mesmo que nunca tenha tocado qualquer tipo de instrumento ou cantado qualquer canção, mesmo que não saiba nada!

É preciso ser um cão de vez enquanto, lamber o chão em determinada ocasião, a fim de puramente ver que na vida há também um chão onde se deva vez ou outra meter a cara, e não apenas sonhar com nuvens cor de rosas onde se flutuam paz, amor e divindade celestial, além de leite com Nescau.

Miseráveis os que só “viajaram na maionese!”, sacando seus documentos para se enfileirarem em dias de eleição, como se fossem marionetes!

Pobres dos que nunca arrancaram a dor a golpes de facão, sem anestesia, nos idos de uma era pretérita inimaginável, selvagem, ou que nunca se deram realmente mal na vida; aqueles que não puderam lacrimejar quando a dor insuportável lhes fora acometida, por estarem desidratados demais para tanto!

Sinto pena desses imbecis, daquele que sempre se intitula um “feliz”, sendo que no fundo se corrói na mais ignóbil dúvida se aquilo é ou não a tal tão sonhada felicidade, sem saber se o verdadeiro é mesmo o verdadeiro ou um falso sabor, um falso valor, enrustido de amargura

São todos muito felizes, excetuando japoneses, tanzanianos, etíopes ou o caralho a quatro, que mastigam o inferno com leite podre e vêem seus filhos se transformarem em matéria putrefata inidentificável, sem nexo com o que quer que seja, e se esbofeteiam uns aos outros para verem se tudo aquilo não passa de um pesadelo, e que mesmo quebrando suas caras jamais acordam.

Não quero ser pessimista nem anormal, não! Não quero ser nada, e que não me levem a mal!

A maioria dos brasileiros são “felizes” demais para se preocuparem com algo além do que o BBB17º versão, da novela da rede “bobo” ou do noticiário sensacionalista das dezenove horas, do José Luiz Vale a Pena, da morte da leitoa ou da festa do peão. Não querem nem saber! Estão enchendo o cu de pinga e vivendo a feder, como um sujeito que anteontem me veio pedir um quibe com ovo. Dei-lhe e ele ficou ao meu lado, fedendo e mastigando nervosamente, fedendo, fedendo..., até que lhe arrebentei a cara com uma garrafa de fanta. Motivo o qual escrevo agora da cadeira, furioso com tanta “ignorança”.

Mas, afinal de contas, quem sou eu, caralho, além de mais um de vós que ouvem vozes no fim da vida, mais louco que uma planta carnívora?!

Mesmo os mais miseráveis dos brasileiros se vêem por aí, sorrindo sorrisos desdentados, dando a cara a tapa para um mundo doido, berrando que o timão é o timão, e que flamengo é flamengo, e que o governo Dilma “ta muito bão”, e que gostam mesmo é de carnaval, circo, pão e pancadão!

Fodam-se! Tudo isso na verdade é em vão...

Savok Onaitsirk, 31.03.11.

Cristiano Covas
Enviado por Cristiano Covas em 30/03/2011
Reeditado em 31/03/2011
Código do texto: T2879947
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