MONÓLOGO DE UM PÓS-ESOPO
Envolver-me-ei a tristeza de tua mesa, de tua cama, sofrendo o engasgo nesta amarga fartura... Meus versos afirmam minha zanga, pelos pobres homens que arrotam arrogância por vezes vexatoriamente indefinida.
Eis aqui as palavras que emudeci e as lagrimas que contive e as dores desta malfadada sociopatia, então leiam minha tristeza, enquanto bombas caem fazendo arder a terra, enquanto a fome fomenta a miséria e o ódio que impera sobre a razão.
Meus versos refutam quaisquer hipocrisias.
Vejam a cegueira do poder corporativo que alimenta uma democracia ultrajada, que se alimenta e manipula um maná para sua corja corrupta. Eu respiro e sinto nojo do odor, enquanto desaparecem verbas publicas, pois, por falta delas, sobram restos de gente nas ruas, restos humanos nos calçadões dormitórios, alheios a fúria que devora as escolas, os hospitais, creches e remédios, a fúria que exclui procriando marginais e muitos índices nas planilhas sociais, mas que número pode explicar essa desolação e a falta de alimentos, de teto e respeito para com este nosso irmão.
Números são maquiados, eis o retrato deste povo maltratado, resto humanos sob o falso entusiasmo de narizes infelizes, sob os olhares indignados de cegos que enxergam, e negam, e negam.
Fábulas e lendas não disfarçam favelas.
Dói-me este discurso de fragilidade, esta mão imaginaria e sobrenatural, seus dedos gélidos pressionando minha garganta.
Reagir é necessário.
Clamo numa prece sussurrada, e lamento, e vigio, e respiro uma esperança qualquer. Eu enxergo, mas ontem ceguei, e virei o rosto para tantas mazelas. Fui vidraça, estou espelho, mas até quando esses milhões de ovelhas alimentarão essa ninhada de raposas.
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Obrigado pelo carinho e atenção, o mérito do texto se julgará por sua eventual divulgação.