Você se considera elegante?

Digamos que eu não primo pela elegância. Em todos os sentidos. No aspecto estético, visto-me mal, não sei usar os talheres corretamente, desconheço as etiquetas, troco os pés pelas mãos, sou um tabacudo, enfim. E nos relacionamentos, sou uma pinóia mesmo. Mal educado, esqueço de agradecer um favor, passo dias sem mandar um alô aos amigos mais íntimos, desconsidero geral a obrigação de dizer obrigado diante de uma gentileza. Também porque sou um cara tímido feito rato de fava.

Conheço pessoas altamente requintadas, chiques, mas deselegantes até dizer basta. Falo da elegância do comportamento. Tem aquela madame rica, distinta, que só andava bem vestida e perfumada, com o nariz empinado. Ela usava um tom superior ao falar com os empregados. Mandou a cozinheira da escola onde ensinou voltar para a cozinha “que é o lugar dos serviçais”. Tem horror a negros, pedintes, pobres em geral. Adorava fofocar da vida alheia, sentia prazer em humilhar. Estudou em Paris, mandou a filha estudar nos Estados Unidos, tocava piano e recebia as amigas com chá, que é de bom tom. Conheci essa madame de perto. Ela me odiava. Suas jóias, seu sobrenome e seu nariz empinado nunca me impressionaram. Achava-a vulgar, deselegante, frívola, interesseira, maldosa e invejosa. Hoje, esclerosada, sofre o abandono da família, vê cair aos poucos todo seu mundo plantando em cima de valores falsos. Se eu fosse um cara elegante, perdoaria essa madame.

Por outro lado, conheço pessoas realmente elegantes. Notar que os elegantes autênticos são geralmente pobres, alguns iletrados. Tenho um amigo que é a elegância em pessoa. Daquela elegância natural, que não se ensina em escola nenhuma. O cara nasceu simpático, amável, atencioso e simples. Sorriso permanente na cara, esse cara é desses que te dá um presente só pelo prazer de presentear, nem precisa lance de aniversário. Tem a elegância de fazer favores e jamais fazer propaganda disso. Delicadeza de retribuir carinho e amizade, de sempre ter uma atitude gentil para com qualquer pessoa, mesmo que seja um idiota mal educado.

Você olha nos olhos quando conversa com alguém? Eu evito. Olhar o outro nos olhos é sinal de elegância, de respeito e cordialidade. Esse meu amigo é um sujeito elegante, apesar de não frequentar as altas rodas sociais nem ter uma vida requintada. A outra, a madame, é destituída de decoro, embora rica e educada nos melhores colégios.

Meu desiderato é me construir como uma pessoa melhor, ser menos arrogante, olhar o mundo com nobreza e liberalidade. Meu padrão é esse amigo que conheço desde a infância. Gostaria de começar absolvendo aquela mulher que quando passava por mim, cuspia de lado. Não quero ser melhor do que ela. Pelo menos, gostaria de não renovar o estoque dos foguetões que comprei para comemorar seu passamento. Macróbia, essa mulher parece ser eterna. Meus foguetões já perderam a validade e ela insiste em caminhar sobre a terra.

Um dia vou perdoá-la, mas facilitaria se ela fizesse ablativo de viagem.

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Fábio Mozart
Enviado por Fábio Mozart em 30/03/2011
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