"Olha-me", "toca-me", "vive"...
Eu sou o tempo, eu sou sem pressa e sou o giro-do-mundo. Eu falo alto e falo tanto, beijo louco e beijo outro tanto, eu sou daqui e também dali, eu sou o meu nome e o que mais quiseres chamar. Eu sou assim -livre, sem tabus, sem géneros, sem pai... nem mãe e vivo a vida por onde ela vier.-
Sou de aceitação e contra ela nunca luto, não luto contra o nada, nem nada. E sou o meditabundo, o medo, o afectivo... o arrogante.
Porque melhor que eu não existe. Sou a existência do tamanho da minha consciência, sou o tamanho do mundo que é meu, sou o mundo no meu tamanho; MEU, porque Deus assim me escolheu... SOU... FAÇO... POSSO...
Posso o que desejar, o que sentir e o que sonhar também.
Não abro excepção, não faço correcções. Erro e erro e erro... erro muito e irei continuar a errar. cada erro é um futuro acerto e só quem está disposto a errar pode aprender a ganhar.
Sou mercadoria, um produto inacabado, sou incompleto e ou tu tocas ou não tocas, não existe meio termo; Ou entras, ou sais... prefiro que FIQUES!
Sou homem e metade de tudo, sou fera e sou mito; Sou explosão uma super-nova, sou massivo, petulante, ariano, Deus da Guerra uma sexta-feira e sou nove. Sou luz, sou alma e sou o universo na palma da minha mão!
Não, não me chames pai, nem irmão, pois não te chamo mana ou mãe... Sou HOMEM e tu és melhor daqui até ao fundo e só te quero na pele, na carne e no coração, no sentimento... do sentir.
Não, não procuro em ti defeitos quando carrego um caixotes deles comigo. Não procuro em ti erros, nem derrapagens, nem que falhes algum dia, porque eu sou a antítese de tudo isso e essas coisas eu deixo para que Deus do céu as resolva: Deixo mesmo!
Não, não te procuro só para me aninhar nos teus ombros e chorar, nem para me embrulhar em soluços penosos da distância que nos separa; Não te procuro só porque me sinto só; Não, essas coisas eu deixo
para quando sou poeta.
Na verdade nunca te procuro.
Na verdade tu fluis em mim como imã, fluis como uma onda em mim muitas vezes, outras nem tanto.
Umas vezes uma imensidão vazia entre este céu que é todo azul e nele se espraiam as asas de uma fragata a contempo de voar liberdade, outras vezes num outro céu onde as tuas asas se estiram no meu cansaço.
Outras vezes uma asa quebrada, um desgosto e uma saudade - essas são as vezes que me faço poeta e te deixo no fluir da pena que te escreve sonetos rimados-.
As vezes largo-te da mão num voo picado e com parafuso, para me esplanar na grandeza deste céu que me cabe inteiro no olhar, e sei que tu nunca te esqueces que eu sou TUDO...
"Olha-me!"
Diz do alto o redentor... "toca-me"... "vive"...
Abre o tempo e corre a cor perdida de um arco-íris porque eu sou mais... muito mais... mais...
Sou amor
Sou coração
Sou calma
Sou sexo...
Sexo com o olhar
Sexo com mãos
Sexo com sentir
Sexo profundo
Sexo pelo sexo
Sexo animal
Sexo assim contigo e sem igual...
Sexo sem fim.
E assim acabo o dia a delirar este meio cronicando, este meio sermão, este meio escrever solitário.
Nas mãos deliro o teu choro, nos olhos desenho o teres estado, no coração rebusco as nossas fotos, a preto, a branco, de todas as cores.
Assim como quem te procura no nada, dentro das resmas dos meus poemas, que não são meus e todos sabem, e, assim pelo mundo errado, e assim no meu ser sem casa, sem destino, assim no voilá desta vila mundial, por entre as espadas e as escarpas, em dois mil aeroportos, desde a Bahia ao paraíso, desde São Paulo, Rio ou Londres, só porque não sei de ti fugir nem sei como terminar.
No tapete-rolante o meu saco-cama gira infinito, fitas dos lugares pendurados esvoaçam, marcas e cheiros, cantos e viagens e a pergunta solitária: "gosta de viajar?"
Passou por cima como a névoa respondo com um sorriso. O que importa os lugares que encontrei se tu não estás sempre neles?
O que importa?
Só sei que não sou nada senão for por amor... o teu AMOR.
Paulo Martins