PAVOR NO MUNDO INVISÍVEL
José Objetivo Máximo, conhecido por Zeca Máximo, está ali para sonhar, no bar, tomando cerveja sozinho. Pede à garçonete mais um copo; põe bebida nele, para fingir estar acompanhado; não precisava, pois logo aparece um antigo conhecido e se senta à sua mesa. Zeca Máximo, na base da cerveja, com desculpa de feriado, fica apreensivo pela simpática companhia, rapaz de 27 anos, magro, alto, bem-apessoado, que aceita guaraná. Filho de conhecido médico e já tendo sido cabeça de galinha, isto é, viciado em droga, o sujeito afasta o copo de cerveja número dois e se recosta à vontade na cadeira da frente. Bem falante, sorvendo o guaraná, revela que no mês passado teve “ um problema de sinapse nervosa”. Perguntado o que é isso, o companheiro explica que “ é uma confusão de neurônios”. Em outras palavras, pensa Zeca, só pode ser coisa de maluco; e é.
Sempre à vontade na cadeira e na palavra, ele vai confessando. Acostumado a usar maconha e cocaína, fez tratamento para deixar o vício, tomando remédio controlados ( Diazepan, Tegretol, Haldol e Gardenal). Parecia ir bem com o tratamento, mas, quando o pai pensou que o filho se recuperava, vieram cantos de liturgia dos mortos, como sinos que não dão aleluias.
O bonitão, continuando com o seu guaraná, reconhece ter dado uma guinada no tal tratamento: além dos remédios controlados, resolveu fumar um cigarrinho de maconha, cheirar cocaína... Na ocasião foi dormir tarde; sonhou com monges entoando cantos gregorianos; acordou às quatro da manhã, jurando estar acompanhado de Cristo; abriu a porta do quarto com Jesus ao lado, olhou para o céu e viu uma estrela mais brilhante que as outras, a estrela d’alva, o espetacular planeta Vênus; pois o ponto luminoso no espaço começou a piscar, e ele acreditando que aquilo era a prova da espiritualidade e que Deus o chamava; De olho no firmamento, saiu de pijama para a rua e topou com vários Ets; mas não eram extraterrestres, eram conhecidos e amigos que retornavam de uma festa.
O pior, entretanto, conforme o companheiro de mesa de bar, aconteceu faz uns dez dias: em tratamento com os tais remédios controlados, ele foi de carona passear em Agripina, cidade a 55 quilômetros daqui de sua residência, debaixo de um sol brabo; lá resolveu tomar umas e outras. A mistura não deu certo: achou que tinha à sua frente um querido avô já falecido e, exaltado admirador da boa alma, foi indagando: vovô, vovô, é o senhor? É, é o senhor mesmo!”. O avô, que sempre andava de caminhonete, saiu a pé pela rodovia; sob sol escaldante, o neto o acompanhou e tirou a roupa; pelado na pista, já tinha caminhado seis quilômetros quando entrou na frente de um caminhão Scania; o motorista levou o maior susto, fazendo manobras incríveis para evitar o atropelamento. Enquanto o caminhoneiro se afastava xingando, o caminhante toxicômano seguia no meio da pista, vendo gado, lavoura de milho, de melancia, e ainda o avô; só não tinha certeza se seu carinhoso e respeitável antepassado era o produtor daquelas melancias ou se era o pecuarista lidando com aquele gado. Estava assim confuso, e nu, quando a visão do avô desapareceu e surgiu uma viatura da Polícia Federal; foi preso e algemado. Conduzido à sua cidade (aqui), o pai interveio transtornado, sensibilizando a polícia para liberar o filho; vestiu roupa nele e o levou para a capital, onde o internou numa instituição espírita especializada em recuperar drogados.
Depois de prestar atenção ao drama do amigo, Zeca Máximo pergunta se ele está bem. A resposta é encorajadora:
__ Estou ótimo. Bebida alcoólica e droga, nunca mais. Vou agüentar se Deus quiser. Vou agüentar mesmo...!
Ao se levantar e se despedir amistosamente, o ex-viciado (será?) pergunta se a cerveja está boa. O anfitrião da mesa, oferecedor do guaraná, por vias das dúvidas, responde que a cerveja está uma porcaria, quente e choca. Assim que o amigo sai. Zeca Máximo chama a garçonete
__ Amor, me traz outra geladinha e boa, igualzinha a essa que acabou.