Vida e morte de Júlia...
Júlia era uma menina sem motivo algum para sorrir. Vivia calada, parada, por todos os corredores em que fosse possível. Algo, que para uma garota com traços quase que perfeitos, acabava sendo um grande desperdício.
Seus olhos, azuis com uma intensidade quase desumana, estavam sempre escondidos por trás da franja desarrumada, de mechas claras, que ficavam sobre eles.
Sua boca (ah! Que boca) era algo no mínimo maravilhoso;
Esculpidas pelas mãos de um anjo, que, com certeza, estava com tamanha inspiração quando executou aquele trabalho.
Porém, mesmo com toda perfeição, ela conseguia ser uma jovem solitária, e, de certa forma, vazia.
Seus pais, Sr. e Sra. Carrara, estavam sempre tentando anima-la de alguma maneira; era sempre, tudo em vão.
Seu quarto, de teto abobadado e paredes de ladrilhos, era seu mundo mais acolhedor, mais confiável.
Na escola, sempre que Júlia colocava o primeiro pé no piso de mármore, começava-se a escutar os eternos murmurinhos:
- Nossa, um dia essa garota perceberá que está morta.
Outros, sem nenhuma piedade daquele ser imaculado, soltavam insultos inoportunos:
- Você verá, Charles, um dia ponho essa vagaba para me fazer um servicinho...
Júlia nunca se importou com nada disso. Passava com cabeça abaixada, olhos em algum ponto no piso brilhante.
Contudo, para consolidar de uma vez por todas o sofrimento contínuo de seus pais, Júlia Carrara, de 17 anos de idade, foi encontrada morta em seu quarto, por volta das 08:32 da manhã de 03 de fevereiro. A causa da morte, ou causas, até os dias atuais, ninguém ainda sabe.
Porém, uma coisa é certa: tudo começou no final de semana de 03 de agosto de 1963, na casa de seus avós, por parte de mãe.