José Alencar – Triste Obvio

Triste Obvio

O tempo amanheceu esquisito, o sol brincando de se esconder com as nuvens. Logo que despertei tomei nota das notícias pela televisão, o ex-presidente José Alencar continuava internado em estado grave no hospital Sírio-Libanês, em São Paulo (SP). Meu pai já estava acordado se movimentando na cozinha com seu café, da sala comuniquei a ele o que diziam os noticiários matinais.

Dei sequência a minha vida, tomei o rotineiro caminho até a secretaria para trabalhar. Os ônibus e sua superlotação impediram-me de chegar no horário, obrigando a buscar a segunda alternativa, que resultaria em meia hora de atraso. Como era de se esperar, os jornais impressos acompanhavam os ritmos televisivos, alguns deles aplicavam em seu conteúdo um espaço destinado à informação do estado de saúde do ex-presidente da república.

Apanhei um dos exemplares traçando meus olhos nas linhas escritas por um jornalista, José Alencar continuava em sua luta contra o maldito câncer, doença essa que já me tirou amigos e mais amigos. Treze anos de luta, o que faz dele, apesar de não ser um aclamado escritor da Academia Brasileira de Letras, um imortal ou uma lenda, que faz o impossível todos os dias, sobreviver ao câncer.

Por volta do meio dia retornei para casa, enquanto almoçava assistia o jornal que, mais uma vez, trazia informações novas sobre o estado de saúde de Alencar. Intrigante como parece que esperam a morte dele, não me lembro de um anuncio tão aguardado como o que seria caso José Alencar falece. Meu pai retornou da rua, a chuva já caia á alguns minutos na cidade, assim que adentrou a casa logo me questionou o que estava acontecendo. Em resposta ao “velho”, disse que o estado de saúde do ex-presidente havia piorado e os médicos já diziam que não suportaria muito tempo.

Peguei no sono após o almoço, despertei depois das 14 horas, ainda meio tonto e com os olhos querendo abrir por completo. Vi a jornalista falando algo, ainda não estava completamente consciente para entender o que era dito, mas arregalei os olhos quando li o escrito. Meu pai, que saíra para ir ao banco e retornará todo molhado, não deu muita moral para a televisão e nem ao menos perguntou algo, mas resolvi dizer assim mesmo. — O José Alencar morreu! — Ele me encarou como quem estaria raciocinando, ligando o nome à pessoa, e por fim fez um breve bico após balançar a cabeça como quem estaria pensando em dizer que aquilo era o triste obvio.

@Andfarinha