Dizem que ser homem é muito fácil, concordam?

Ser homem é só coçar o saco, comer cebola crua sem fazer careta, tomar Coca-Cola e arrotar o mais alto possível. Apostar quem cospe mais longe, xingar a mãe do colega e sorrir dos maus bocados acontecidos com os amigos. Sentar de pernas abertas, cruzar os braços e ficar olhando para o traseiro das mulheres que passam e dizer frases inteligentes, tipo: “Oh avião! Um pandeiro desse não treme em minhas mãos!”... Compreende? E não para por aí não.

Este ser em questão é do tipo que usa o banheiro e não puxa a descarga, fecha o zíper, mas esquece de lavar as mãos depois de ter balançando as intimidades na hora do mijão e logo em seguida mastiga carne de boca aberta e adora ficar de palito na boca, quer mais? Alguns estudos comprovam que quando tomam banho, deixam o banheiro molhado, saem pisoteando todo o piso do quarto e enxugam os pés com a toalha que passou no corpo e ainda a deixa jogada sobre a cama, quando não, não enxugam os pés e adoram calçar os tênis de pés molhados só pelo prazer de reclamarem que o chulé está insuportável...

Ser homem é gostar de futebol, nunca perder o jogo do seu time do coração, sofrer com a derrota, vibrar com a vitória e sempre agarrar os que estão por perto na hora do gol, mas nunca por vontade e sim por força do hábito. Gostar quando o time contrata aquele jogador que além de bom de bola é objeto de cobiça do mundo feminino, mas nunca admitir que o cara é bem aparentado e tem o corpo em forma. Preferem se esquivar do assunto e nunca gostam de demonstrar seus reais sentimentos.

Para estes a mulher é propriedade e não aceitam perde-las. Não se julgam capazes de gestos delicados e estão sempre suspeitando dos amigos que agem diferentes. Tiram todos os fins de semana para beber em companhia dos companheiros e embriagados são os seres mais ricos do mundo. É esquecer-se das brincadeiras de crianças e nunca se lembrar de que no auge das descobertas dos desejos, brincam de bolinar os traseiros dos colegas e de serem bolinados; machucam os peitos inchados com beliscões e adoram meter a mão nas partes proibidas causando imensas dores e nunca se sabe se era mesmo aquela vontade.

Ser homem é contar vantagem e nunca estar por baixo. No emprego é sempre o que mais trabalha; em casa o que fala mais alto e na roda da bebedeira é o que mais paga e nem se preocupa com a conta que tem de pagar ou com o dia seguinte. Nunca é brocha, é sempre o garanhão e nunca admite que só dorme com a esposa e por ela é capaz de tudo. Alimenta sempre o sonho de ir para cama com duas mulheres e há quem diga que a vontade é de ter uma dando-lhe cafuné e a outra coçando-lhe os pés enquanto o mesmo dorme, ronca e não dá conta do acontecido, mas...

Dizem que ser homem é muito fácil...

Ser homem é ganhar enxoval azul por esta ser a cor do céu e céu lembra mundo e mundo lembra poder e o poder está para o homem assim como o homem está para dominar, ser homem é, pois, dominar, mesmo que para isso ele tenha que negar a si mesmo. Muitas vezes esse ser se constitui assim só por convenções sociais. É brincar de carrinho porque carro é velocidade, força, determinação, é ser o dono do espaço; brincar de médico e sempre estar no papel de aplicar injeção, nunca estar na posição do aplicado, embora experimente, prove, saiba exercer a democracia sem antes ter estudado. É brincar de bola e correr atrás desta, suar a camisa e driblar situações, sentir-se pássaro...

“Homens não choram”, diz o ditado, mas também não podem ver sangue que logo desmaiam enquanto mulheres choram compulsivamente e sangram ao final de cada ciclo. Os homens mijam enquanto as mulheres fazem xixi. Eles preferem ir ao banheiro sozinho para não levantarem suspeitas da sua masculinidade e elas adoram frequentar esses espaços em bando. Aqueles se apuram nas horas de liberarem as flatulências e estas não perdem a oportunidade de socializarem as dores de serem privadas... Não digo propriedade privada, mas que os intestinos não funcionam direito, talvez pelo excesso de regimes que começam a cada dia, mas só começam porque mulheres não podem ver comida, essa é que é a verdade e nunca dispensam um convite de jantar fora, ou festinha de aniversário de criança, ou uma sopinha na casa da vizinha ou almoço de domingo bem farto. O slogan é sempre o mesmo: “Ah, meu Deus, estou de regime, mas vou quebra-lo, só por hoje. Amanhã, volto novamente!” Só por hoje? Só por hoje parece coisa de viciado, e é.

Dizem que ser homem é fácil, muito fácil mesmo. O homem sempre se acha o mais valente e nunca leva desaforo para casa. Não age com a razão e tudo quer decidir na porrada ou no grito. Chama os colegas de filho da gata, mas nunca aceita que diga ao menos um elogio a sua mãe. Ser homem é ter cabeça de fósforo e viver esquentado, pensar que a cabeça só serve para separar as orelhas e plantar desordem. Este ser é dotado de preguiça, adora se espantar com a própria catinga do sovaco só para dizer que é macho, nunca raspa as pernas, não tira as sobrancelhas e adoram estar com tudo em cima: o queixo em cima do pescoço, o pescoço enterrado sobre os ombros; o queixo de tão gordo sobre o peito, o peito roliço sobre a barriga pançuda deslizando sobre os possuídos, estes encolhidos, guardados entre aqueles já murchos e encolhidos e aposentados.

Ser homem é render-se as convenções sociais, ser fruto do já criado e não perceber as possibilidades de... Se isso for mesmo verdade, eis mais um animal em extinção e que não se encontre no mundo ser que deseje preservar essa espécie porque este modelo de ser já não cabe mais, não vale nos tempos de hoje, de tantas novidades. Este ser pré-histórico deve estar morto e enterrado.