Prosas e conversas
Ando fugindo das rodas de conversa. Ultimamente está difícil manter uma “boa prosa”, como se dizia antigamente. Todo mundo acha que sabe tudo de tudo, todos tem opiniões prontas para todos os assuntos, como se conhecessem desde física quântica até, o porquê cabrito defeca em bolinhas. Por fim, não se conversa, apenas se ouve o “outro” do diálogo expressar sabedoria, todo mundo virou o Google.
As pessoas querem apenas platéia para ouvir suas histórias e não ligam a mínima para o que você está dizendo. É muito fácil perceber isso: é só você notar quando você estiver contando alguma coisa: 1) se a pessoa comenta sobre o que você disse ou 2) se ela atropela sua história contando a versão dela (que é sempre maior e melhor que a sua), se for a segunda opção, batata, ela não deu o mínimo pra sua história.
Fora os temas das conversas.
Outro dia tentei conversar com um grupo de jovens: foi um tal de downloads, twitter, trending topics, spam, vírus (como se não bastasse o que já enfrentamos no mundo real), antivírus (de novo), facebook, chat, browser, FTP (não é palavrão), HTML, http, IP, webdesigner - e por aí foi. Saí da conversa sem entender nada, e olha que a informática é uma das ferramentas do meu trabalho.
Com os adolescentes não é diferente. Tente conversar e verá. É Fiuk, Restart, Harry Potter, vampiros anêmicos no cinema (e não é o José Serra), e a gente tem a impressão que não vive no mesmo mundo que eles.
Papo de futebol então, não consigo mais. Não entendo o que muda na minha vida se o Neimar ganha mais que o Ronaldo Fenômeno. Outro dia presenciei essa discussão, os debatedores, corintianos e santistas, ficaram mais de uma hora nessa difícil tarefa de provar ao outro quem ganhava mais. E o pior, não conseguiram.
Outra coisa que me irrita profundamente é a malícia com que as pessoas encaram tudo na vida. Outro dia estava perto de um grupo de mulheres, já mais vividas, e tive de sair à francesa, roxo de vergonha. Tudo na conversa delas tinha conotação sexual. Algum tempo atrás, eu tinha um colega que era tão malicioso que até assistindo jogo na tv, sozinho, ele comentava o duplo sentido das frases do comentarista: o narrador falava que “o jogador entrou com bola e tudo” e meu colega comentava sozinho “oro” (expressão que quer dizer que alguém ‘entregou o ouro’ no mau sentido), o cúmulo da malícia.
Mas não desisto tão facilmente, ando a procura de bons papos, onde se aprende ao mesmo tempo em que se diverte.
Lembro das rodas de bate-papo de quando era criança. A família se reunia em torno do fogão de lenha, na casa de minha avó e ali surgia todo tipo de história. Às vezes não conseguia dormir sozinho com medo das histórias de assombração, outras vezes sonhava como eram heróis os meus tios e seus amigos, com as histórias de caçadas e pescarias pelas matas afora. Tudo era mágico (ou eu vivia no ‘Fantástico Mundo de Bob’) e a maioria das pessoas aceitava as lendas e fantasias como verdade. Anos mais tarde, já adultos, perguntamos ao meu avô o que tinha acontecido com os lobisomens, assombrações, mulas-sem-cabeça, sacis e tantos outros seres fantásticos com os quais ele tinha se deparado pela vida, e ele na sua simplicidade respondeu: “há, o caminhão matou tudo”. Sem saber ele deu uma resposta perfeita para o fenômeno da modernidade que está acabando com as lendas, crenças e tradições.
Voltando ao tema desta crônica. Sempre estou atento às boas conversas e fujo, como o diabo da cruz, das conversas chatas. Quase sempre acabo recorrendo aos livros, excelentes companheiros para horas de entretenimento.
Às vezes entro nas salas de bate-papo virtual, MSN e tantas outras redes sociais na internet. É até bom, porque se alguém te chateia você simplesmente desliga e pronto. Mas a qualidade das conversas também deixa a desejar. Parece que as pessoas dizem qualquer coisa apenas para ficarem conectados. Às vezes têm um monte de pessoas falando entre si, vira uma torre de babel de baboseiras.
Enfim, sou precavido, estou pesquisando sobre amigos eletrônicos.
Se chegar um tempo em que as pessoas não oferecerem mais nada além do extremo egoísmo que estão cultivando, compro um robozinho, desses sentimentais, feito no Japão.
Tá decidido!