Só pelas bandas de lá.
Morte? Só se for pela banda de lá.
“E se hoje não fosse esta estrada,
se a noite não tivesse tanto atalho,
o amanhã não fosse tão distante,
solidão seria nada para você.” (Geraldo Azevedo)
Quando o assunto é morte, as pessoas se retraem e ou ficam assustadas. Vivemos sem procurar entender a morte e cada vez mais que nos aproximamos dela pela idade que avança ou por uma doença mais ainda vive-se este terror.
Nascemos e vivemos sem procurar entende-la ou mesmo estudá-la e sabê-la como certa e fatal. E assim muitas vezes nos surpreendemos com nossas preocupações de como será o dia de nossa morte. Pensamentos povoam nossas cabeças, quando entramos nessa de querer saber ou mesmo prever se podemos saber o dia que ela virá nos abraçar e levar para algum lugar, longe de nossos amigos, filhos, mulheres. Angustia que se apodera, o vazio que avança em cada dia.
Em uma de suas musicas o cantor Raul Seixas, tido como poeta maluco, divagava com sua morte e em certo momento, ele pensa na sua morte ridiculamente num dia de sol, tomando um escorregão idiota e batendo a cabeça num paralelepípedo. Assim numa morte inconcebível.
É assim, a morte sempre como um fantasma a nos assombrar, por isso é melhor falar dela só de for pelas bandas de lá. Pois aqui gostamos de falar de vida, de festas e alegrias com belos sonhos e lindas fantasias. Mas como não recebê-la e ou concebê-la como festa, alegria, renascimento para uma nova vida?
Saber morrer, não é suicidar, é buscar entender toda nossa existência, estudar os motivos que nos levam ao encontro infalível desta senhora, é procurar aprender a viver cada dia como se fosse o ultimo de nossa existência por aqui, o que significa viver abraçado na dignidade, fraternidade, de maneira inteligente e consciente, para poder dizer estou pronto! Sem esta de insistir no querer ficar, pois é o prazo de validade amigo, é preciso acatar, para não ser produto em deterioração.
Saber morrer é ter a confiança de seus deveres cumpridos, é a certeza de que plantou corretamente e que os frutos saboreados agora não lhe servem mais.
É hora de partir, e que nesta partida, os lenços apenas acenem, num ritual lindo de deixar sem fôlego o mais simples dos mortais. Que não haja lenços úmidos dos remorsos ou mesmo borrados das maquiagens e lançados sobre nosso caixão. Que somente flores possam nos cobrir e ali secar junto do corpo.
“Oh morte, tu que és tão forte,
Que matas o gato, o rato e o homem.
Vista-se com a tua mais bela roupa quando vieres me buscar.” (Raul Seixas)
E assim naquele dia que nunca sabemos, alçaremos o ousado vôo.
E que esta terra nos seja leve.
Toninho
25/03/2011.