ESTA VIDA: SEU IMPERATIVO MAIOR

Após tantos anos neste mundo, ainda não consegui adquirir plena consciência de qual seja o Imperativo Maior para a minha vinda a tal plano. Tenho flashes que me mostram, tardiamente, mas talvez ainda a tempo, que a grande, a incomensurável tarefa que me cabe constitua transmutar o ser de sonho e de contemplação que sempre tenho sido (ainda que pague as contas em dia, compre os mantimentos e remédios necessários, cuide para que minha mãe não passe fome nem frio...) transmutá-lo, a este ser, em alguém com os pés efetivamente plantados no solo do cotidiano e as mãos e a alma ocupadas, de verdade e em verdade, nas tarefas do dia-a-dia, alma que, inserida em tais tarefas, sequer se recorde de que é assim que os monges budistas alcançam o Satori.

Alma esquecida de si nas coisas simples. Esquecida de si. Esquecida de si. Mal comparando, uma alma como a de Marta, a limpar a casa, enquanto Maria se queda contemplando as palavras do Senhor. Eu disse mal comparando porque, o que pretendo dizer é: Talvez o Senhor me tenha destinado vir a mirar-me no espelho de Marta, mais do que no espelho de Maria.

É possível que eu me esteja enganando, fundo, em parte destas colocações, pois, como o próprio Jesus, o Cristo, deixa entrever nas entrelinhas e por detrás de sua suave admoestação a Marta, ela, Marta, e Maria correspondem às duas faces da mesma moeda, como os monges budistas o demonstram em sua prática diária. Em suma: contemplação não se opõe à ação e vice-versa. Não devem se opor uma a outra; o que é preciso é que sejam, ambas, “ativas”.

Creio seja esta, em última análise, a lição cujo aprendizado se me faz urgente, a lição que me urge viver.

Na manhã de 28 de março de 2011.