DA CULPA PARA ARREPENDIMENTO

Castigo refere-se a uma “pena que se inflige a um culpado” sendo ele levado à uma privação de uma coisa, como represália a algo ruim cometido e que aconteceu. Geralmente o castigo parte de alguém que detém o poder, o controle sobre a vida do outro.

A criança cresce escutando dos pais :”Vou botar você de castigo!”. Ao se tornar adulto, dono do seu nariz, responsável por seus atos diante de si,dos outros e das leis, passa, então, a ser senhor e juiz de suas atitudes, podendo haver um deslocamento para o castigo vindo de “forças superiores”. Escuta-se muito: ” É castigo!Estou pagando pelo que fiz!”, ou a substituição pela culpa que tem um peso na consciência, ficando tatuada na mente e, vez por outra, dificultando um equilíbrio na forma de se comportar no convívio social.

O estado afetivo desencadeado pela culpa pode ser expresso por um remorso ou indignação com a própria pessoa, em relação ao ato repreensível, fazendo com que o sujeito se acuse e se sinta até responsável por formas de agir sobre quem sofreu sua influência. Conheço vários casos da mãe e/ou pai se sentirem culpados por, imaturamente, terem sido agressivos com um dos filhos e já mais adiante se condenarem por não terem agido com sensatez. Quando desabafa:”Minha filha é irresponsável e a culpada(o) fui eu!”, poderá descobrir que pode ter sido as circunstâncias e, além da força do meio, há muito das características herdadas. Aprendi uma lição com o psiquiatra Albert Ellis: “Não se sinta culpado, tenha arrependimento”. Como a linguagem tem um poder grande na elaboração do pensamento, o ser trabalhado para substituir a culpa que pesa, maltrata, causa tristeza e sofrimento, por algo menos condenatório como o arrender-se de não ter feito mais, ou de maneira mais adequada para o momento.

Não conto as vezes que diante de alguém que partiu para sempre, uma mãe, um pai, um esposo e outras pessoas que foram queridas, em algumas ocasiões, há quem manifeste uma grande culpa, achando que poderia ter feito mais, ter estado mais presente, ter demonstrado mais carinho, ter dado mais atenção e só no depois percebe como se tivesse falhado e a culpa surge, ressurge. O perigo está na presença em sua vida do castigo rondando. Agimos de acordo com o que era possível. Não há como se condenar. Pelo menos há que se trabalhar neste sentido.

Sabemos que ninguém gosta ou deseja ser castigado, ou ter este sentimento de culpa como uma sombra. Parte deste sentimento foi registrado e está na instância psíquica do inconsciente e aflora em alguns momentos, fugindo ao controle da razão. Acreditar que o castigo na vida adulta acontece por ter falhado conscientemente não é algo que deva ser mantido; pode-se muito bem trabalhar este sentimento desconfortante, mexer, mesmo com sofrimento, no centro da ferida, para se ter uma vida mais tranquila, com a transformação da culpa em arrendimento.O peso dessa nuvem negra da culpa, do pensar que alguma adversidade da vida poderá ser percebida como castigo devem ser, no mínimo, substituídas pelo arrependimento.

Edméa
Enviado por Edméa em 27/03/2011
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