Hoje: o melhor dia das nossas vidas

Fiquei pensando muito naquilo que me falaram e que escrevi sobre o carnaval de Três Ranchos: “as pessoas ficam tão loucas que parecem que estão vivendo o último dia de suas vidas”. Que descrição mais estranha para “acabar-se em festa”!

Tem gente que leva tão à risca esse dito, agindo sem nenhuma responsabilidade, que acaba se matando literalmente, e de fato tendo seu último dia ali. Outros, mesmo agindo com responsabilidade, são vitimados por alguma fatalidade do destino.

Mas será que é esse mesmo o intuito de quem está ali – acabar-se em festa daquele jeito “como se estivessem vivendo o último dia de suas vidas”? Ou será que é justamente o contrário: entregam-se à farra exatamente por já darem um duro danado no dia-a-dia e por saberem que na quarta-feira à tarde pós-carnaval voltarão às suas respectivas e duras realidades?

Afinal, quem é fissurado em carnaval, passa o ano inteiro esperando pelo do próximo ano. Conta os dias, faz planos muito tempo antes. Quando chega, não quer que acabe. E então se acaba nele, antes que acabe. Se acaba mesmo, antes que a dia cinzento acabe chegando de todo jeito...

Não entendo nada de datas cristãs... será que inventaram a quarta-feira de cinzas por causa do carnaval? Ou o oposto, já que a quarta de cinzas vai chegar de todo jeito, que aproveitemos bem o carnaval! A cara do brasileiro mesmo... E se já amamos finais de semana, nada melhor (ou pior) que instituir um “dia de cinzas” exatamente no meio da semana, o dia mais distante de um e de outro final de semana...

Mas voltando à reflexão, será mesmo que as pessoas se acabariam assim em festa se soubessem que estão vivendo o último dia de suas vidas? Tenho certeza que sim! Muitos! Muitos, porém nem todos.

E fiquei cá pensando com meus botões, o que eu me poria a fazer se soubesse que é o último dia da minha vida. Difícil escolher algo para um dia tão especial assim, único. Algumas ideias, muitas opções.

Não faria como o povo carnavalesco em Três Ranchos, não. Porque prefiro não passar meu último dia em meio a uma multidão de pessoas, mas rodeado por pessoas especiais, muito queridas. Escolheria a dedo (de uma mão!) as pessoas que me fariam companhia, assim como o lugar em que eu quero estar. Essas coisas são boas de escolher, já o dia que isso vai acontecer, é melhor mesmo que não possamos saber.

Então, como não sabemos quando isso acontecerá, é melhor não desperdiçar a vida, amores, amigos, lugares e coisas que gostamos. É melhor viver bem, aproveitando cada momento, como se fosse mesmo o último. É melhor dizer, com todas as palavras, o quanto gostamos das pessoas amadas.

Se vivermos cada dia como se fosse o último da nossa vida com consciência e bom senso, uma hora a gente acerta, e sem arrependimentos.

(Catalão, 26/03/2011)

Hélio Fuchigami
Enviado por Hélio Fuchigami em 27/03/2011
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